UM PEQUENO PASSO NA CORÉIA, UM GRANDE SALTO PARA A HUMANIDADE

Luã Reis- Ao cruzaram juntos a fronteira que ainda separa a Coréia, o líder do Norte, Kim Jon Um e o presidente do Sul, Moon Jae In deram um passo histórico rumo a paz. O que antes era impensável, deixou de ser uma utopia, entrando no horizonte das possibilidades a médio prazo: uma Coréia finalmente unificada e livre da ocupação estrangeira.

Pelo lado da Coréia do Norte, as condições para o diálogo foram estabelecidos pelo sucesso do programa de defesa militar. A nação supostamente atrasada tecnologicamente conseguiu construir um sistema de proteção que dissuadiu a mais poderosa força militar da terra. O mísseis balísticos intercontinentais se mostraram um caminho para o diálogo que rapidamente trouxe o EUA para o diálogo.

A Coréia do Sul, por sua vez, voltou ao diálogo depois de uma década de governos conservadores. A submissão aos interesses americanos era travestida de discurso nacionalista contra o norte pela direita lacaia que mandava em Seul. O presidente Moon longe de ser um extremista é apenas um liberal democrata, ultra reformista. O Partido Democrático da Coréia do Sul é uma centro-esquerda bem tímida. Mesmo assim, minimamente atento aos interesses da esmagadora população sul-coreana que quer a paz. 

A tensão na Península Coreana serve para os EUA manterem dezenas de milhares de soldados estacionados no leste da Ásia, ocupando a Coréia do Sul e o Japão. Utilizando o pretexto coreano, os americanos ameaçam a China, incluindo entre as armas um poderoso escudo anti míssil que não protege ninguém na Ásia, apenas os interesses do complexo industrial militar que manda em Washington. 

Claro que essa presença americano extremamente próximas é um incômodo especialmente para a China, mas também para a Rússia, que impulsionaram as negociações. O impeachment da Park Geun-hye, conservadora e pró-imperialista, cada vez mais parece ter contado com um discreto apoio de Pequim. A plataforma desenvolvimentista de Moon que quer integrar regionalmente a poderosa economia sul-coreana se encaixa perfeitamente na Rota da Seda de Xi Jinping. A China já planeja construir uma ferrovia de alta velocidade conectando Pequim-Pyongyang-Seul. A guerra comercial de Trump contra a China, que também ameaça a economia industrial de alto valor agregado da Coréia do Sul, estimula ainda mais a integração na região. 

Na última década, a Coréia do Norte foi caluniada de todas as maneiras pela mídia ocidental. Kim tantas vezes chamado de “louco” e “irracional” pelos jornais da imprensa corporativa, se revelou um estrategista. A futura reunião com Trump parece ser um gesto de cavalheiro para que o presidente americano não pareça ainda mais derrotado, que possa lançar tuítes furiosas apresentando paz na Coréia como vitória pessoal dele. Se esse for o preço a se pagar para que o EUA saia da Península Coreana, Kim e Moon estão dispostos a pagar. 

Enquanto Trump solta bravata sobre muros, ameaças pelo twitter, inicia guerras comerciais, os coreanos vão em sentido contrário: Kim e Moon cruzam uma fronteira que, brevemente, não existirá mais. Aproveitando do nome lunar do presidente da Coréia do Sul, com o perdão do trocadilho, pode-se dizer que nos pequenos passos dos líderes coreanos, um grande salto para a humanidade

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