A REALPOLITIK BRITÂNICA EM MEIO A CASAMENTOS REAIS

Luã Reis – Quando ocorreu o último casamento da realeza britânica, em 2012, o país sofria a segunda etapa da crise internacional iniciada em 2008, cujo o centro financeiro de Londres, a chamada “city”, teve papel fundamental. O casamento do príncipe, segundo na linha de sucessão do trono, distraiu um pouco a atenção dos súditos da complicada situação da economia. Passado o espetáculo, a crise se agravou nos anos seguintes. 

O conservador David Cameron apoiou as novas aventuras americanas no Oriente Médio, na Líbia, através da OTAN, além do apoio aos jihadistas na Síria e no Iraque, este último guerra continuada, de aparência eterna como a do Afeganistão, onde o consórcio da guerra anglo-americano ainda está metido. O aumento dos gastos militares era acompanhado de duros cortes em programas sociais, eis a fórmula de ouro da austeridade. Essa receita anti-popular e anti-social tinha a aprovação entusiasmada de burocratas da União Europeia e FMI. 

A denúncia dessa política anti-social se manifestou em uma campanha, impulsionada pela extrema-direita, para que a Grã-Bretanha abandonasse a União Europeia. Após um par de anos dessa reivindicação sobre o Brexit, Cameron propôs um plebiscito: com a certeza da vitória, o conservador primeiro-ministro pretendia calar aqueles a sua direita e reforçar o próprio poder para uma eleição seguinte. Cameron esqueceu de combinar com o povo, no entanto. A vitória do Brexit pegou a todos de surpresa: dos institutos de pesquisas à burocracia europeia, passando por analistas políticos de direita e de esquerda. Cameron teve que renunciar em nome de uma figura do partido que tivesse apoiado o Brexit, o que conduziu a ainda mais conservadora Theresa May ao poder. 

Paralelo a condução do Brexit, May se tornou parceira prioritária de Trump, continuando o apoio às aventuras fatais no Oriente Médio, algumas novas como a contra o povo do Iemem e o bombardeio junto com os EUA e a França contra a Síria. No entanto, quando May chamou eleições para reafirmar o poder, sofreu o mesmo que o antecessor: uma fragora derrota, perdendo inúmeros deputados, solapando a própria governabilidade. Colocando em evidência o opositor Jeremy Corbyn, da ala de extrema-esquerda do Partido Trabalhista. O resultado eleitoral mostrou que a população rejeita a política conservadora de austeridade. A crise, cujo o Brexit foi a maior expressão, não passou. 

Corbyn propõe varrer da Grã-Bretanha os tatcherismo: reverter as privatizações, abandonar as guerras imperialistas no Oriente Médio e priorizar as camadas populares. As palavras de ordem da campanha de Corbyn são “para os muito, não para os poucos.” Esses poucos privilegiados se assustam com a liderança do trabalhista, franco favorito para as próximas eleições. 

No tradicional ritual que abre os trabalhos no parlamento britânico, a rainha pede a palavra para discursar, enquanto os deputados abaixam a cabeça para a soberana em deferência. Corbyn manteve a cabeça erguida, em afronta simbólica a tradição conservadora, enquanto May, submissa, manteve a cabeça abaixada. 

Nesse contexto se deu o espetáculo do último casório real: um regime em crise, apelando para uma tradição conservadora, com elementos que travestem como algo “moderno” e de certa forma “em sintonia com as demandas sociais”, como tentaram colocar as emissoras que transmitiram o casamento com pompa. Um regime em crise apelando para todas as formas de legitimação. Não se deve descartar que em pouco tempo, uma real oposição coloque em cheque a rainha. Nem se deve deixar de lado que a família real participe de uma manobra política contra um opositor, eventualmente Corby, que evidencie a crise política do país. Dessa vez não haverá mais príncipes para mais um espetáculo conservador. 

Soft Power: uma tradição supostamente desinteressada, cujo os abnegados membros da família real mantém apenas para “unificar a nação”. Um fardo sustentado para o bem-comum.
A crise do Brexit evidenciou a situação britânica: o descrédito com o regime e a falta e a grande derrota eleitoral de May.

“O sol nunca se põe no Império Britânico”, a famosa frase sobre o auge da extensão territorial do império no século .

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