EUROPA, CIAO: ITÁLIA ENSAIA SAÍDA DO BLOCO EM CRISE

Luã Reis – A Itália confirmou o novo governo eleito nas últimas eleições de março, formado a partir da aliança entre os dois partidos mais votados, ambos sem tradição e fundados nessa década: o Movimento 5 Estrelas e a Liga Norte. Dos 617 deputados, o 5 Estrelas tem agora 227, a Liga obteve 122, jutos a maioria necessária para a formação do governo.

A Liga Norte é o principal partido conservador do país, obtendo a maioria dos votos da população do norte, de cidades como Turim, Milão, Verona e Veneza. O Movimento 5 Estrelas se apresenta como “anti-sistema”, mesclando posições atribuídas a esquerda, como ecologismo, serviços básicos estatais e casamento gay, com defesa de medidas à direita, como a recusa à imigração. O 5 estrelas obteve a maioria dos votos no centro e sul da península, herdando os votos da esquerda. Ambos os partidos são eurocéticos, altamente críticos das políticas impostas pela União Europeia, por isso são definidos pela mídia e outros políticos como “populistas”.

A rejeição à bloco europeu foi o motivo pelo qual o presidente Mattarella utilizou a prerrogativa constitucional de barrar a formação do novo governo. Diante do impasse, a solução seria a realização de novas eleições. No entanto, os eleitores italianos demonstraram insatisfação com a decisão do presidente, indicando que um novo pleito poderia dar uma vitória ainda mais acachapante para os eurocéticos.

O novo primeiro ministro é o desconhecido professor Giuseppe Conte, que terá a difícil missão de equilibrar a pressão de Bruxelas pela submissão a UE com a vontade popular de soberania política e independência econômica. Na prática, os homens fortes do governo serão os vices primeiro-ministro Lugi Di Maio e Matteo Salvini, líderes, respectivamente, do 5 Estrelas e da Liga, que trouxeram na campanha diversos questionamentos à Europa: como as sanções alopradas contra a Rússia prejudicam dramaticamente a economia italiana e como os bombardeios desenfreados, apoio às longas, caras e sanguinárias guerras no Oriente Médio e África, fizeram aumentar o número de refugiados.

A coligação partidária e de interesses se assemelha a eleição do Syriza em 2015 na Grécia, onde um partido de classe média herda os votos da falência da esquerda tradicional e se alia com um partido nacionalista de direita para organizar a saída da UE. Os ataques ao novo governo foram descomunais, que não buscou a mobilização popular, preferindo se render. O caso grego deve ser referência para Roma.

A instabilidade é a marca da política italiana, cujo o sistema político complexo, a judicialização da político, o espectro de Berlusconi, as disputas regionais tornam governar com novas políticas algo extremamente difícil. Se o novo governo terá sucesso ou cairá daqui a poucos meses é imprevisível, mas certo que se expressou nas urnas uma ampla rejeição à política liberal dos partidos tradicionais bem como ao bloco europeu. A Itália canta “Europa, ciao, ciao, ciao”, uma canção que está na moda da direita à esquerda.

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