A IMAGEM DO G7 É A DA CRISE DO OCIDENTE

Luã Reis – Todos estão de pé, exceto um. Cercado pelos europeus, Trump deveria estar acuado, no entanto não é isso que transparece. Pelo contrário, Trump desconhece a força que Merkel quer demonstrar. Os braços cruzados, comuns em Trump, demonstram uma recusa que juntos com a expressão compenetrada, porém serena, parece um patrão dirigindo-se aos empregados. Apoiada com os braços enrijecidos na mesa, a chanceler alemã olha tensa e fixamente para o presidente americano. Não adianta. Trump agora já está ouvindo Macron. Encoberto, o presidente francês reproduz o gestual de Merkel, no entanto com expressão assustada. Com a posição que ocupa, Macron é uma sombra no braço de Merkel.

Em um canto superior, se pode deduzir, Thereza May é um vulto, provável mas especulativo. Entre os europeus e o americano, ao centro, Shinzo Abe assume a postura de um juiz em uma disputa. Com pena, atento aos europeus, o primeiro-ministro sabe que os colegas estão com a razão, mas quem tem o poder é Trump, logo vencerá.

Trump só conhece a força, como bem ensinou Kim, por isso a agressividade de Merkel. Até o bigode do falcão da guerra dos EUA, John Bolton, se arrepia com o ultimato lançado pela alemã. A imagem foi divulgada pela chanceler, demonstração de força para o público externo e interno. Funciona para quase todos, afinal todos estão tenso, exceto quem importa, Trump.

Os europeus se viam como sócios no grupo, os EUA aceitam funcionários, do contrário são parasitários. A imagem do G7 é a crise das instituições ocidentais. Um poder em franca decadência, que nada pode fazer diante do mundo multipolar que com força surge contra a hegemonia, outrora tão bem representada pelos sete países do grupo.

O alemão Walter Benjamim descreve, em um texto clássico, um quadro de Klee, chamado Angelus Novus, “que representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.”

Angelus Novus enxerga Angela Merkel encarando Donald Trump.

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