A ARÁBIA SAUDITA AMEAÇA O CANADÁ COM UM NOVO 11 DE SETEMBRO?

Luã Reis – No dia 6 de Agosto a conta do twitter da agência oficial de notícias da Arábia Saudita, KSA, publicou uma imagem de um avião da Air Canadian prestes a colidir com a Skyline de Toronto, prédio símbolo da cidade, em uma referência óbvia aos ataques contra as Torres Gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001. O texto na imagem é uma ameaça nada velada: “Como diz o ditado árabe: quem interfere naquilo que não lhe diz respeito, acaba encontrando o que não esperava”, lembrando dos riscos de “colocar o nariz onde não se deve!”

As ameaças sauditas são uma resposta a uma crítica feita pelo governo canadense, também através do twitter, a prisão de ativistas que lutam pelos direitos da mulheres, consideradas cidadãs de segunda classe na monarquia absolutista. Entre as presas está Samar Badawi, saudita-americana, próxima a Hillary Cliton. O governo árabe também expulsou o embaixador canadense do país.

Quinze dos 19 sequestradores dos aviões que colidiram com as torres eram sauditas, como o líder da organização que realizou o atentado, a Al Qaeda, Osama Bin Laden. A Al Qaeda compartilha a visão religiosa e política da monarquia saudita. A proeminente família Bin Laden é uma das mais ricas do país, atuando em vários ramos da economia, especialmente na construção civil. Recentemente, o filho de Osama, Hamza Bin Laden, se casou com uma filha dos sequestradores dos aviões do 11 de setembro, em uma cerimônia realizada no Afeganistão. O candidato Donald Trump durante a campanha afirmava que iria investigar a relação evidente entre o governo de Riad e os ataques do 11/9, no entanto, eleito presidente, se aproximou, e dançou conforme a música dos monarcas sauditas.

A Arábia Saudita testa a força diante da críticas ocidentais relativas a Direitos Humanos com uma deliberada provocação, feitas por governantes tipo o liberal Justin Trudeau. O reino é o segundo maior comprador de armas do Canadá, movimentando mais de 10 bilhões de dólares por ano. O arsenal fabricado pelos canadense é fundamental no massacre que os sauditas realizam contra o povo do Iemen – e mesmo assim a Arábia Saudita está sendo derrotada.

Horas antes, a mesma conta do governo saudita postou uma imagem do Aiatolá Ali Khamenei, com uma legenda escrita “Morte ao Ditador”. Qual seria a reação dos governos ocidentais se uma agência estatal do Irã ameaçasse explicitamente o Rei saudita? O que diria Trump, May, Macron, Merkel ou Trudeau se os iranianos respondessem a uma crítica ocidental com uma ameaça terrorista, ainda por cima fazendo referência ao traumático 11 de setembro?

Com uma forte campanha de marketing, o governo saudita quer desfazer a imagem do país mais retrógrado e opressor do planeta. Poucas horas depois o tweet foi apagado, mas a ameaça já estava posta. A imagem diz muito sobre a realidade dessa campanha: o que é marketing e o que é real. No entanto, diz mais ainda sobre os governos ocidentais: difícil imaginar que o Canadá abrirá mão de um negócio bilionário em nome de provocações dos sauditas, muito menos em nome da liberdade de ativistas que lutar por direitos fundamentais, que os canadenses dizem, no twitter, defender.

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