O LIBERALISMO E O FIM DA HISTÓRIA: OS COLETES AMARELOS E O FUTURO

Por Luã Reis

As mesmas chamas que arderam no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, queimaram a Catedral de Notre-Dame, em Paris. Incêndios de patrimônios históricos da humanidade, que resistiram à passagem do tempo e às guerras, mas foram destruídos pelas políticas de austeridade neoliberais. 

O sociólogo americano Francis Fukuyama decretou “o fim da história”, em 1992, em meio ao liberalismo triunfante após a queda do socialismo no leste europeu. A democracia liberal, com o Estado mínimo para todos e o máximo de lucro para poucos, seria o regime final das sociedades humanas. O desenvolvimento da história, portanto, enquanto movimento de  transformações sociais teria chegado ao fim. A história, sabemos, continuou. O liberalismo continua, no entanto, a combatê-la.  

A redução a cinzas de museus, igrejas e outros tesouros da humanidade é consequência direta das políticas de redução de gastos. Monumentos de alta manutenção e baixo lucro não tem vez na lógica cultural. A Catedral de Notre-Dame, declarou o governo em 2012, é apenas “mais um dos centenas de monumentos que existem na França”. Em 2017, o poder público se recusou a custear a obra, orçada em U$ 6 milhões de dólares.    

A política de corte de gastos em nome da austeridade fiscal não poupa nada nem ninguém. No arrasa-quarteirão neoliberal, as contas públicas estão a serviço dos especuladores internacionais e banqueiros, não a serviço da população. O patrimônio público e a riqueza nacional devem ser entregues no mercado internacional, pelo risco de ameaça do “equilíbrio fiscal”. O que é caro para o mercado, sucateia-se para que seja vendável. Aquilo que ainda assim não pode ser privatizado, pois não dá lucro, que vire cinzas. 

E fim da história. 

Só que as população não aceitará que seja retirado cada direito, excluídos os mecanismos de proteção social e eliminado tudo o que foi conquistado através de lutas históricas. A mesma Notre-Dame que testemunhou a decapitação do Rei, a Comuna de Paris, o levante contra a ocupação nazista e o maio de 1968, agora observa um novo movimento, os Coletes Amarelos. 

A população revoltada com o aumento dos combustíveis que recaí mais duramente sobre os mais pobres saiu às ruas e tomou a política francesa. O colete amarelo é um item obrigatório no veículos franceses, a população o adotou como sinalização não só de trânsito, mas político: “queremos ser vistos” é o poderoso símbolo da população francesa. 

Pelo vigésimo segundo sábado seguido, o povo trabalhador da França se manifestou. Com uma pauta ampliada além da questão do preço do combustível: querem a redução do custo de vida em geral, o retorno das legislação trabalhistas, o restabelecimento dos serviços públicos e o fim dos privilégios aos ultras-ricos. Ou seja, querem o fim das décadas de neoliberalismo devastador que jogou milhões de franceses na miséria. A expressão de revolta contra as políticas neoliberais se pronuncia através da palavra de ordem “Macron demission” [Fora Macron!]. 

Observando a própria história, o povo da França percebe o quanto a vida piorou com o conjunto de políticas ultra-liberais, elitistas e antidemocráticas. A história não pode terminar assim, por mais que digam os ideólogos do neoliberalismo. Com seus fluorescentes Coletes Amarelos recordam indiretamente o iluminismo: são uma tentativa de iluminação popular diante das trevas de uma elite parasitante e obscura. 

O governo da França e o governo do Brasil são diferentes na aparência, mas possuem os mesmos patrões, servem aos mesmos interesses, aplicam a mesma política contra seus povos: exterminam direitos com a mesma voracidade que o fogo destrói monumentos no Rio e em Paris. A tradução do francês “Marcon Demission” para o português se diz “Fora Bolsonaro”. 

Os franceses não querem que suas vidas virem cinzas no altar neoliberal como a Notre-Dame. Por isso também vestem os coletes: para que as suas histórias tenham futuro. 

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