OLAVO DE CARVALHO – UM RASPUTIN ENTREGUISTA E BRASILEIRO

Por Gabriel Barata

Há alguns anos se houvesse uma pesquisa entre os brasileiros, provavelmente, Rasputin seria um nome mais conhecido do que Olavo de Carvalho. Alguns se lembrariam do famoso russo pelo conto de Anastásia, outros pela sua influência sobre a família real dos Romanov. Olavo de Carvalho não fazia parte do imaginário popular e seus livros eram restritos a uma pequena horda de revoltados saudosos da ditadura militar. Ele só ganhou notoriedade depois que a intervenção estrangeira no Brasil para tirar a esquerda do poder se intensificou e quando a mídia tradicional (criadora de Olavo) o alçou a “guru” do clã Bolsonaro. 

Existem diversas semelhanças entre Rasputin e Olavo de Carvalho. Os dois vieram do interior do país e, a sua maneira, passaram a exercer grande influência sobre poderosos políticos em seus respectivos países. Grigori Rasputin era um camponês da Sibéria que passou a encantar a elite de São Petersburgo com discursos religiosos. Ele passou a ter acesso irrestrito à família do Czar depois que ajudou no tratamento de hemofilia de Alexei, herdeiro do trono. Era comum que os médicos dessem pílulas semelhantes à aspirina para qualquer enfermidade no início do século XX, o que deixa o sangue mais fino. Rasputin recomendou que parassem com a medicação e Alexei Romanov melhorou no dia seguinte.

Em paralelo, Olavo de Carvalho, de acordo com uma de suas filhas, se interessou primeiramente pelo Islã. O cristianismo passou a estar presente nos discursos de Olavo depois que foi incorporado pela nova direita internacional, da qual o brasileiro faz parte. Outro fato curioso é que Olavo de Carvalho não vacinou os filhos contra sarampo (o que causou sérios problemas de saúde às crianças).

Também eram comuns relatos sobre a presença hipnótica de Rasputin. Apesar de muitas vezes estarem ligados a pesquisas ocidentais que misturam documentação histórica com boataria, os depoimentos de membros da nobreza russa da época falam sobre uma espécie de hipnose realizada através das palavras e dos olhares de Rasputin.  A mesma filha de Olavo de Carvalho fala sobre uma técnica de Programação Neurolinguística utilizada pelo pai.

Assim como Rasputin passou a exercer grande influência sobre Czarina Alexandra Romanov, Olavo tornou-se próximo de Eduardo Bolsonaro (mesmo que o próprio pensador brasileiro diga que ele falou poucas vezes com o clã Bolsonaro – sabemos que para a família presidencial conversar no Whatsapp não é falar, então uma análise sobre essa questão é sempre nebulosa). Mas aí, surge uma diferença grotesca entre os dois. Rasputin, mesmo sendo um conservador, queria que a Rússia deixasse a Primeira Guerra Mundial (uma guerra para a qual a Rússia foi arrastada pelo Reino Unido), porque julgava ser a melhor forma de defender os interesses do país. Olavo de Carvalho se posiciona quase sempre de uma forma que protege muito mais os interesses do governo dos Estados Unidos do que do brasileiro.

A elite russa se revolta com a influência de Rasputin na questão da retirada da guerra, mas eles não foram os únicos que se incomodaram. O Serviço Secreto Inglês sabia que se a Rússia deixasse a guerra, a Alemanha poderia mobilizar todas as tropas no front Ocidental. Por isso, em 1916, do hotel Astoria, em São Petersburgo, os ingleses planejaram a morte de Rasputin. Apesar de todas as histórias em torno da morte do místico russo, a bala que o executou partiu de um agente inglês. Rasputin deixou uma previsão para o Czar Nicolau II:

“… Tenho o pressentimento de que morrerei antes de 1º de janeiro (1917). Se eu for assassinado por gente comum, especialmente por meus irmãos camponeses russos, então o Czar da Rússia não deve se preocupar por seus filhos, que reinarão na Rússia outros cem anos. Mas se eu for assassinado pelos nobres, digo que ninguém da sua família, nenhum de seus filhos, viverão mais de dois anos. Eles serão assassinados pelo povo russo.”

Rasputin foi assassinado por uma conspiração entre a nobreza russa e o serviço secreto inglês. Sua previsão se confirmou. A família do Czar foi morta depois que a pena de morte foi restabelecida na Rússia soviética.

Olavo de Carvalho parece não ter motivos para se preocupar com o serviço secreto do maior império de sua época. E a proximidade dele da CIA pode ser mais do que física, já que o pensador mora a alguns quilômetros da sede do serviço secreto dos EUA. A influência de Olavo de Carvalho sobre a família Bolsonaro fez com que o clã saísse da órbita política de um protofascismo nacionalista para um neofascismo internacional. Olavo de Carvalho fala de um globalismo fantasioso, em que os interesses dos grandes bancos fossem opostos aos de Washington. Faz isso escondendo que os EUA são um império em crise e que a tática de fazer dos norte-americanos vítimas de uma conspiração internacional é apenas uma cortina de fumaça para justificar intervenções estrangeiras que possam prolongar a morte já anunciada do Tio Sam.

Olavo de Carvalho é um entreguista que age como fantoche dos Estados Unidos. Ele não se posicionou contra a venda das riquezas naturais brasileiras, contra o fim da pesquisa militar do submarino nuclear nacional ou contra a entrega da base de Alcântara. Ele só se levanta de sua velha cadeira nos EUA para defender os interesses de uma pátria que não é a sua. O que levou ao filósofo Aleksandr Dugin, em um livro que debate com o astrólogo, a dizer que Olavo nem brasileiro é, já que não mora no país.

Dugin é um representante da direita russa. Assim como foi Grigori Rasputin. E tem, atualmente, influência sobre Putin com sua tese sobre uma Quarta Teoria política. Mas nem por isso ele deixa de se colocar em um campo oposto a Bolsonaro e o chamou de ditador liberal pró-americanos e de marionete do capitalismo. Essa é a diferença entre a direita russa e a brasileira. Lá a direita, devido ao processo histórico de formação da identidade nacional da Rússia, se recusa a ficar de joelhos frente à outra potência imperialista. A elite brasileira, pelo contrário. Fica feliz em ser vassala do império e se apega a qualquer falso retrato de poder. Nem que para isso tenham que ser pintados como bobos da corte. 

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