A NOVA TENTATIVA DE GOLPE NA VENEZUELA, AS LIÇÕES DE LULA E A ESQUERDA ACUADA

Por Gabriel Barata

O mundo amanheceu com a notícia de mais uma nova tentativa de golpe na Venezuela. O golpista apoiado pelos Estados Unidos, Juan Guaidó, divulgou em sua conta de Twitter um vídeo afirmando que as Forças Armadas estavam ao seu lado (mentira!) e convocando os venezuelanos a irem às ruas para derrubar o presidente democraticamente eleito, Nicolás Maduro. O povo não o ouviu, mas os mesmos grupos que tentaram derrubar Maduro depois da morte de Hugo Chávez iniciaram novos atos de agressão contra a Pátria Bolivariana.

As mídias brasileira e internacional, imediatamente, repercutiram largamente a nova tentativa de golpe (claro que não chamando de golpe, mas tratando essa agressão instigada pelo império norte-americano de revolta popular, definindo como “operação”). Enquanto isso, a esquerda brasileira se constrange para defender Nicolás Maduro e a soberania da Venezuela. Uma esquerda que, assim como faz com Lula, prefere “lacrar” ou receber um tapinha nas costas da pequena burguesia que faz parte de sua bolha nas redes sociais do que, de fato, se posicionar e lutar contra mais uma agressão imperialista.

Na histórica entrevista que deu ao El País e à Folha de São Paulo, Lula não hesitou em falar sobre a relação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos com o golpe liderado pela Lava-Jato e pela mídia corporativa brasileira que o tirou das eleições e o transformou em um preso político. Maduro também nunca teve medo de apontar a mão imperialista, e nada invisível, de Washington na Venezuela.

A tentativa de golpe iniciada em 30 de abril segue a mesma regra dos últimos golpes apoiados pelos EUA. Guaidó postou um vídeo no início da manhã de terça-feira convocando os venezuelanos para “o fim da usurpação” (por mais risível e contraditório que isso seja quando sai da boca do usurpador) e dizendo que estava na base aérea de La Carlota, em Caracas. Atrás dele estava o criminoso Leopoldo López, que é do mesmo partido de extrema-direita de Guaidó, o Vontade Popular. Lopez também postou em seu Twitter a falsa informação de que estava na base aérea, assim dando a impressão de que a base estava tomada pela oposição e que, realmente, as Forças Armadas haviam cedido ao golpismo.

Guaidó e López nunca estiveram dentro da base. Estavam em uma autoestrada próxima a La Carlota. Mas as Fake News continuaram. Surgiram boatos até de que Maduro preparava uma fuga para Cuba. O golpe na Venezuela, assim como no Brasil, depende da confusão de informações. E para isso as mídias venezuelana e internacional são fundamentais. O próprio Eliott Abrams, nomeado por Trump para liderar o golpe na Venezuela, admitiu que uma intervenção militar no país depende do apoio na América Latina e na Europa. O que acontece hoje é uma tentativa de conseguir esse apoio estrangeiro. Apostam nas imagens da Guarda Nacional reprimindo as manifestações golpistas para trazer para o seu lado a esquerda pequeno burguesa e que é mais cristã do que revolucionária.

A oposição venezuelana sabe que vai ser derrotada hoje. Os atos desta terça-feira e de amanhã (sim, a extrema-direita está sequestrando uma data popular como o 1º de maio para orquestrar um golpe) não vão derrubar Maduro. Eles sabem que Guaidó vai ser preso, como já dissemos aqui. E será esse o momento de maior pressão midiática fora da Venezuela. Até porque foi o próprio Guaidó que, por personalismo puro, antecipou a tentativa de golpe (inicialmente marcada para o dia 2 de maio) que era negociada com os EUA, com o líder do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), Maikel Moreno, com o presidente do Supremo venezuelano e alguns poucos generais. A antecipação da ação fez com que Guaidó perdesse ainda mais apoio dos militares que tramavam para trair Maduro, como diz uma fonte ouvida pelo jornal El Confidencial.  

A cobertura da Globo News é de fazer qualquer jornalista que tenha compromisso com a verdade sentir ânsia de vômito. Chamam os Coletivos de milícias, Guaidó de democrata, Maduro de ditador e falam sobre a repressão das manifestações como um grande ato criminoso praticado diretamente pelo presidente democraticamente eleito. Uma cobertura completamente diferente das repressões contra os professores no Rio de Janeiro em 2013, em Curitiba em 2015 ou qualquer outra em que a polícia brasileira atacou os manifestantes. Na Venezuela, a repressão é antidemocrática, no Brasil são para conter o “vandalismo”. A mesma Globo News que, desde que Lula chegou à presidência, faz uma campanha difamatória contra o ex-presidente que ajudou a criar um sentimento antilulista em alguns setores da população.

Mas, mesmo assim, a esquerda brasileira não se posiciona em favor de Maduro. Até mesmo PT e PSOL têm correntes dentro dos partidos que são contra a defesa da legitimidade de um presidente democraticamente eleito. E é preciso que a esquerda se pergunte: o que queremos ser e o que queremos fazer? Vamos defender nossos símbolos populares ou vamos nos aproximar de uma esquerda anticomunista como a canadense e a norueguesa? Queremos ser a Suécia ou queremos ser um Brasil livre e soberano?

Ainda há muitas personalidades de esquerda preocupadas em falar das diferentes linhas de marxismo e querendo explicar teoricamente porque a Venezuela não é um país socialista, já que os meios de produção não foram subvertidos. Outros criticam a conciliação de classes feitas por Lula, Dilma, Chávez e Maduro. Os mesmos que enchem a boca para se posicionar contra a Revolução Cultural na China que buscou acabar com as influências burguesas no Partido Comunista Chinês, já que Mao Tsé-Tung, pasmem, fez uma revolução que procurou incluir a pequena burguesia no Partido.

O que nós queremos? Ficar em nossos quartos tendo sonhos sobre uma revolução do início do século passado? Ou queremos travar uma luta real e popular? A época do convencimento pela palavra acabou. A eleição de Bolsonaro no Brasil é a prova disso. Hoje, o que convence é a ação, a sensação de lutar contra as forças opressoras. A luta se apresenta de forma diferente, mas ela é popular. Lula disse que não é o PT que precisa de uma autocrítica, é o povo brasileiro que precisa fazer uma. Isso foi um recado para a esquerda. O que estamos fazendo?

A luta de classes não é apenas uma luta entre os trabalhadores industriais e o empresariado. O capitalismo mudou, o sistema do trabalho mudou. E a esquerda acadêmica precisa mudar também. Se aproximar novamente do povo. Entender que grande parte do povo não quer Bolsonaro pelas idiotices que fala. O querem porque pensam que ele está lutando contra a opressão. As mentiras fizeram com que nós parecêssemos o sistema. Enquanto somos nós que lutamos contra ele.

Hoje precisamos lutar. Lutar contra Bolsonaro, contra Guaidó, contra os EUA, contra o sistema financeiro internacional e contra toda forma de opressão popular. É preciso lutar por nós, que somos trabalhadores, lutar por Lula e pela Revolução Bolivariana. Lenin dizia que alguns acontecimentos aceleram a História de forma imparável. Os tempos mudaram, a História também, mas o seu motor segue o mesmo. Somos nós. Que nos movemos por um amor à Pátria, por nossos irmãos latino-americanos, pelas nossas famílias e por todas as pessoas que nos são caras. É hora de sairmos dos quartos e bibliotecas. É hora de ir às ruas e se posicionar ao lado de nossos irmãos trabalhadores. Porque só assim, o povo que foi enganado vai voltar para o nosso lado. Vamos em frente por Lula e por Maduro, porque a vitória é nossa. E não deixemos que o imperialismo sinta, mais uma vez, o gosto de ter nos derrotado.

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