AS PROVOCAÇÕES MILITARES DOS EUA E O REICH DE DONALD TRUMP

Por Gabriel Barata

“Fazer a América grande novamente”. Esse foi o slogan da campanha de Donald Trump à presidência que rodou os Estados Unidos e o mundo. E foi utilizado por bobos da corte que acham que fazem parte da realeza, como Jair Bolsonaro. Mas como reerguer um império que já desmoronou? Para recriar a ideia de grandeza é preciso destruir quem se mostra mais forte, os responsáveis pela queda do império. É a mesma lógica que Adolf Hitler utilizou antes e durante a Segunda Guerra Mundial. E Trump parece seguir Hitler até mesmo na repetição de seus erros.

A Alemanha nazista, mesmo dizimada pela Primeira Guerra Mundial, conseguiu se reerguer rapidamente graças a um plano econômico que contou com a participação de diversas multinacionais norte-americanas. Mas o ressurgimento da indústria da alemã ocorreu, principalmente, pela máquina de guerra nazista. E em poucos anos, a Alemanha desenvolveu uma frota aérea imbatível e uma moderna marinha de guerra. Isso sem falar nos famosos panzers, tanques de alta velocidade desenvolvidos para os avanços rápidos da blitzkrieg. Áustria e Tchecoslováquia foram rapidamente anexadas à Alemanha nazista e a resistência foi quase nula. A Inglaterra, com a poderosa Marinha Real, não tinha condições de competir com a indústria bélica nazista e assistia as ações de Hitler. Assim como a União Soviética, que na década de 30, não tinha um setor militar articulado e se preocupava em acabar com a fome e com o problema de habitação que assolavam a Rússia e as repúblicas soviéticas há séculos.

Sentindo-se invencível e intocável, Hitler passou a bombardear Londres todas as noites, invadiu a Polônia, abriu frentes de guerra no leste europeu, no sul da Europa, nos países nórdicos, no norte da África e no Oceano Atlântico. O objetivo principal era ter acesso ao aço, ao petróleo e aos cereais soviéticos para continuar a desenvolver a máquina de guerra nazista e colocar o mundo sob as asas da águia nazista. Mas Hitler não contava que a inteligência soviética já previa uma invasão e, com o tratado Ribbentrop-Molotov, que estabeleceu a não-agressão entre Alemanha e URSS, os soviéticos conseguiram erguer uma indústria nacional para produzir armamentos para a resistência aos nazistas. Depois da derrota em Stalingrado, a primeira grande batalha perdida pela Alemanha hitlerista, os nazistas acumulam fracassos no norte da África e no Atlântico, até a invasão dos Aliados à França ocupada que começou a fechar o cerco aos alemães.

Hitler queria construir o império idealizado pelo general Otto von Bismarck. Trump tem muitos generais sanguinários americanos para se inspirar, mas suas recentes ações mais parecem indicar que seu grande espelho é mesmo Adolf Hitler. Os campos de concentração o atual presidente dos EUA já tem, como afirmou a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez. Só que dessa vez para imigrantes e não para judeus e comunistas. Trump parece enganado da mesma forma que o líder nazista estava durante a Segunda Guerra. É claro que a capacidade militar dos EUA é maior do que a de qualquer outro país. Até mesmo pelo investimento estatal feito. Mas também é inegável que a distância do poderio bélico para as outras grandes potências já não é tão grande assim. Na verdade, pelo mar e pelos ares, os EUA podem ter uma maior quantidade de equipamentos, mas tem tecnologia inferior à Rússia e China, por exemplo.

Ainda assim, Trump não para de provocar as duas potências que logo vão sepultar o império norte-americano. No início de junho duas embarcações de guerra, uma russa e outra americana, quase se chocaram no mar da China, aliada de Moscou. Poucos dias depois o governo chinês enviou quatro caças para a região que é alvo de disputa com os americanos, que querem poder circular livremente pelo território chinês (algo que a China considera uma ameaça, já que os EUA promove há décadas simulações de invasão pelo mar do sul do país asiático). Hoje, de acordo com fontes de Moscou, a OTAN, braço militar dos EUA na Europa, tem 40 mil militares concentrados nas fronteiras russas. O chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, seu braço militar na América Latina, viaja essa semana para Argentina e Chile para tratar da presença da China e da Rússia na Venezuela e na região. A grande questão é: Washington tem a capacidade econômica e militar de sustentar tantas frentes de agressão?

Nos últimos dias, Trump ficou perto de abrir sua frente de guerra mais perigosa. Depois de acusar o Irã de atacar dois navios de carga no golfo pérsico em uma operação que cheira à false flag – uma situação falsa criada para justificar um ataque estrangeiro – (até porque os iranianos estavam resgatando os marinheiros que, até agora, não fizeram nenhuma acusação contra a República Islâmica), os EUA ameaçaram e chegaram até mesmo a notificar o governo iraniano de um ataque contra o país. O ataque seria uma resposta à derrubada de um drone de espionagem que estava na área territorial do Irã (é importante deixar claro que o Estreito de Hormuz, onde o drone foi abatido, não tem área internacional. Uma parte é território iraniano e a outra faz parte do Omã). Segundo Trump, ele recuou da decisão porque a resposta seria desproporcional. Já que o drone abatido não era tripulado e seus assessores indicaram que, pelo menos, 150 pessoas morreriam no ataque desferido pelos americanos.

Trump disse que se mantivesse o ataque teria acontecido uma “destruição jamais vista”. Mas de acordo com a imprensa norte-americana, o presidente dos EUA recuou do ataque apenas porque suas chances de reeleição poderiam diminuir caso entrasse em uma guerra que seria longa e imprevisível, já que a capacidade militar do Irã é enorme. Trump foi eleito com um discurso de que essas guerras eram caras e custavam muitas vidas americanas.

Ainda assim, é ingênuo pensar que as provocações de Trump e dos EUA vão parar. Eles apenas sabem que a guerra contra o Irã não pode ser ganha agora e que ela pode trazer consequências gravíssimas à economia americana. A guerra contra o Irã será o grande conflito da próxima década. Se os iranianos quiserem fechar o estreito de Hormuz, por onde passa cerca de 30% de todo petróleo comercializado no mundo, podem simplesmente colapsar a economia global e fazer o barril de petróleo chegar a U$1000. Além disso, o Irã tem capacidade militar para colocar fogo nos campos de produção de petróleo da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. Mas a maior ameaça é a possibilidade de ataque ao maior aliado de Trump fora de suas fronteiras: Israel. O Hezbollah tem capacidade para lançar milhares de mísseis contra o país de origem dos maiores financiadores da campanha de Donald Trump à presidência. E o atual presidente dos EUA não gostaria de se indispor com seus bilionários de estimação (ou seria ele o presidente de estimação dos bilionários?).

A relação com Israel é uma das poucas diferenças entre as campanhas belicistas de Trump e Hitler. Mas, provavelmente, se Hitler estivesse vivo em nosso tempo mudaria de opinião quanto a Israel depois de observar as práticas abertamente fascistas dos que detém o poder no país atualmente, como a lei que define a supremacia judaica sobre os não-judeus. Essa semana, na reunião do G20 no Japão, é provável que Rússia e China façam concessões aos EUA em relação à guerra comercial que já é uma realidade. Os dois países sabem que não podem entrar em um grande conflito militar agora. Moscou e Pequim estão fazendo investimentos estratégicos na indústria bélica, mas ainda não tem capacidade para sustentar uma guerra prolongada com os EUA. Talvez o único país com disposição e moral para enfrentar abertamente o imperialismo americano em um confronto militar seja o Irã. E por isso, dessa vez, quem vai ceder é Trump. Mas, como na década de 30, já se sabia que era impossível confiar em Hitler, nenhum governo soberano acredita nas intenções dos EUA. Você confiaria?

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