CRISE POLÍTICA NO PARAGUAI EXPÕE AS CONTRADIÇÕES ENTRE GOVERNOS DE EXTREMA-DIREITA NA AMÉRICA DO SUL

Por Luã Reis

A retórica nacionalista dos governos de extrema-direita serve como uma espécie de disfarce para as práticas entreguistas. Impulsionados pelo capital financeiro internacional, esses governos se apresentam como “patrióticos”, mas são serviçais do imperialismo. Assim, da mesma forma que o governo de extrema-direita de Bolsonaro é um entreposto colonial dos interesses dos EUA contra o Brasil, o governo de extrema-direita de Mario Abdo Benitez, por sua vez, é obrigado a ceder aos objetivos dos empresários brasileiros, como revela a recente crise no país vizinho.

A soberania é uma questão fundamental na política do Paraguai, nação cuja história está marcada pela guerra genocida contra o país realizada pelas potências regionais vizinhas, Brasil e Argentina, no século XIX. A energia produzida pela usina de Itaipú é um elemento central na economia paraguaia, tornando a divisão dos lucros gerados pela hidroelétrica uma questão de Estado, debatida por toda a sociedade paraguaia. A revelação do novo tratado, até então secreto, sobre Itaipu, classificado com “acordo entreguista” por jornais conservadores, abalou o governo do país.

Pedro Ferreira, presidente da estatal de eletricidade, a ANDE, se demitiu alegando que o governo Benitez queria obrigá-lo a assinar um acordo com o Brasil sobre Itaipu que prejudicava o Paraguai. Os paraguais em fúria foram às ruas contra o acordo e o governo: “Desastre ko Marito” é a palavra de ordem contra o entreguismo do impopular presidente do conservador Partido Colorado.

Além do presidente da estatal, o embaixador paraguaio no Brasil e o ministro das Relações Exteriores também caíram. O escândalo envolve implica diretamente o vice-presidente, Hugo Velázquez, que foi obrigado a se explicar ao congresso , que também discute o impeachemt de Benitez. A população em revolta também protestou em frente à residência do presidente .

Em áudios trocados pelo WhatsApp, o advogado José Rodríguez González, assessor jurídico do vice-presidente, intermediou a exclusão de um item no governo para beneficiar a empresa brasileira Léros Comercializadora, de empresários próximos aos Bolsonaros, no acordo secreto de renegociação da Usina Hidrelétrica de Itaipu, assinado no dia 24 de maio por Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez .

O acordo que beneficia a empresa dos amigos de Bolsonaro reverte a divisão da energia de usina estabelecido em 2009 pelo presidentes brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e paraguaio Fernando Lugo. O tratado dos governos de esquerda triplicou a compensação que o Brasil pagava ao Paraguai chrgando aos 360 milhões de dólares (1,365 bilhão de reais) por ano. Os governos de esquerda de Lula e Lugo, aqueles realmente nacionalistas, buscavam compensar os desastres e custos que o Paraguai sofreu com as inundações provocadas pela a construção da represa, pelas ditaduras de ambos os países na década de 1970.

O governo de extrema-direita Benitez se encontra acuado, ameaçado de queda tanto pelas manifestações populares quanto pelo congresso. A ameaça sobre oo governo vassalo de Benitez, motivou uma agressiva nota do chanceler brasileiro, que, na prática, é um funcionário dos EUA. O governo Bolsonaro foi obrigado a recuar no acordo para salvar, ainda que momentaneamente, o aliado sul-americano.

A crise política no governo direitista do Paraguai expõe as contradições entre a retórica nacionalista e a prática entreguista, os inevitáveis choques de interesses entre os governos de extrema-direita com os interesses nacionais. Também revela como apesar de autoritários e agressivos contra a população, os governos de extrema-direita nascidos de golpes de Estados e fraudes eleitorais podem ser frágeis e despertar a fúria popular. 

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