REPÚBLICA POPULAR PLURINACIONAL BRASILEIRA

Por Kissel Goldblum

No Chile, uma foto da bandeira whipala no topo de uma estátua, tirada em um momento certo, revelou o espírito do tempo e uma verdade inconveniente: a guerra entre o imperialismo e os povos originários nunca terminou nas Américas. Na Bolívia, o líder americano da direita golpista no país, Luis Fernando Camacho, após o golpe de Estado no governo de Evo Morales, tomou o palácio presidencial e disse em seu discurso: “Pacha Mama nunca retornará ao palácio, a Bolívia pertence a Cristo”. Pacha Mama é a deidade máxima dos povos indígenas dos Andes centrais. No Brasil, a população parece começar a despertar para uma questão já há muito interiorizada nos países vizinhos – os povos originários precisam ser identificados como nações independentes. O que nos mostra uma  inevitável necessidade: fundar uma República Plurinacional Brasileira.  

No Equador, as marchas lideradas por povos originários forçou a transferência da sede do governo da capital Quito para Guayaquil. O governo de Lenin Moreno fugiu do povo equatoriano e das nações originárias do país. A população de Santiago, no Chile, derrubou a estátua de Pedro de Valvidia (militar e conquistador espanhol), na Plaça de Concepción. Símbolo da colonização espanhola. Contra o golpe de Estado na Bolívia, as mulheres lideram os movimentos de camponeses originários contra o governo golpista que autoproclamou Áñez como presidente do país.

Marx afirmou que o “descobrimento das jazidas de ouro e prata da América, a cruzada de extermínio, escravização e sepultamento das minas da população aborígine, o começo da conquista e o saque das Índias Orientais, a conversão do continente africano em campo de caça dos escravos negros: são todos fatos que assinalam a alvorada da era da produção capitalista […] representam outros tantos fatores fundamentais no movimento de acumulação originária”. Esta “acumululação originária ou “capital primitivo” foi o que, de certo modo, impulsionou o desenvolvimento da própria modernidade. É a hora de giramos a roda da história. Como Darcy Ribeiro mostrou: a América Latina é o lugar de enunciação de uma nova era do pensamento humano. O “giro decolonial”, no Brasil, exigirá a reconciliação com nosso passado e presente de perseguição aos povos originários. Existem mais de 200 povos originários reconhecidos pelo governo federal. O sonho intenso no qual constituímos uma nação tropical originária passa pelo reconhecimento da soberania dos povos originários no país.  

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