TRUMP E MODI: PELA PÁTRIA, CONTRA O MUNDO

Por Victor de Oliveira e Luã Reis

A direita nacionalista de Narendra Modi comemorou a última visita de Donald Trump à Nova Delhi no último dia 25 de fevereiro. Baseados em ‘confiança mútua, interesses compartilhados e boa vontade’, os países assinaram um acordo de ‘aliança estratégica global compreensiva’ que aproxima cada vez mais a índia do Ocidente e dos interesses estadunidenses.

O movimento por parte do Partido do Povo Indiano (Bharatiya Janata Party), no poder há seis anos, não foi inesperado dado ao afastamento da Índia de antigos aliados como a Rússia, Venezuela e Irã ao longo da última década. Apesar de não oficializada, a aliança da índia com a OTAN já vem sendo especulada com base na crescente convergência econômica e política com países membros e ‘aliados importantes extra-OTAN’ como Estados Unidos, França, Japão e Israel.

Mesmo abarcando a sanções impostas por Washington a Venezuela, Coréia do Norte e Irã, ela foi um dos únicos países a não apoiarem o tratado de paz firmado entre os EUA e Iraque.

Paralelo a isso, mas não coincidentemente, uma onda de violência varreu a cidade de Nova Délhi nas últimas semanas em função da nova legislação indiana que legaliza imigrantes ilegais não-muçulmanos dos países vizinhos. O governo e a polícia estão sendo acusados de acobertar e promover ataques a vizinhanças muçulmanas e mesquitas, que já resultaram em mais de 25 mortes.

A proposta de uma Índia unificada (Akhand Bharat) circula no discurso político da região desde o século XIX. O Hindustão unificado, como também é chamado, engloba regiões do Paquistão, Bangladesh, Nepal, Butão, Sri Lanka, Camboja, Mianmar e Afeganistão e é assentado no ideal patriótico e na supremacia religiosa e cultural do hinduísmo.

A política de supremacia hindu (Hindutva) tem sua maior expressão na Caxemira, região de maioria muçulmana no país que teve seu status autônomo revogado e as linhas de comunicação restringidas. A cooperação com Israel na área de segurança cresce muito além da importação de armas, também se importam os métodos e meios de repressão. Analistas apontam uma israelização da Caxemira: onde o governo adota políticas de assentamento ilegal e táticas de combate e coerção semelhantes às em curso na Palestina, pelo exército de Netanyahu.

A ascensão de políticas nacionalistas e do discurso fundamentalista religioso em países do terceiro mundo, salvas exceções, se traduzem normalmente em uma guinada à direita e maior aproximação com os Estados Unidos. Na América Latina, sionismo cristão, eleições fraudadas e lawfare. A índia, em suas peculiaridades, traz o mesmo fim por diferentes meios.

Pouco a pouco, o Ocidente cerceia aqueles que questionam sua hegemonia; coage aliados, promove intolerância e xenofobia e acirra a guerra híbrida global até a escalada de violência que se viu em Délhi e em outros protagonistas do Sul multipolar. Esperamos o desenrolar dos fatos.

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