A novela Brasil e seus últimos “epis-ódios”

Por Ronaldo Lafaete Lima de Araújo

A crise sanitária que tomou conta do planeta parece ter se convertido em algo que vai para além dos esforços de pessoas e governos em busca de soluções à questão de saúde. No Brasil, tal crise se transformou numa espécie de novo “epis-ódio” de uma telenovela, que diferentemente do modelo que faz sucesso por aqui, a novela “Brazil” está mais de acordo com as telenovelas norte-americanas, estas não tem necessariamente um desfecho com data certa para acabar, podem se prolongar por anos, décadas. Ao contrário de nossas telenovelas, que têm data para o final, com enredos muito similares aos filmes de Hollywood, que sempre têm  início, meio e um fim.

Esse novo “epis-ódio”, trás consigo o Brasil como novo epicentro da pandemia, como também revela antigos atores dessa trama, mas que agora o ódio lhes deu protagonismo que cenas de multidão ao redor de patos infláveis não pôde dar.  Agora são poucos, os cenários estão vazios, mas há ódio de sobra, com direito a cenas com caixões ao som de “Thriller”.

A disposição desses atores em roubar a cena tem rendido capítulos de agressões a profissionais de saúde e jornalistas, sem falar de inúmeras pequenas participações isoladas de atuações em que o sentimento de ódio e desprezo pela vida, em que são transmitidas pelas redes sociais.

 Apesar desse tipo de atuação não deixar dúvidas de quem são os vilões, esse elenco não teme a repercussão negativa de seus personagens, afinal já sabem que o público, muita das vezes, se sentem mais familiarizados com eles, mesmo que façam as coisas mais grotescas para alcançar seus objetivos, custe o que custar, como os vilões das telenovelas brasileiras. Teve até quem já atuava mal nas novelas, e agora dá sua contribuição na vida real, com direito a “chilique” para que não se fale mais em cultura, que a deixe morrer, pois assim são os “epis- ódios” da política nacional.

O sucesso de audiência revela que para o público já nem se importa com desfecho dessa trama, já que se deram conta que ela não tem final. Se deram conta de que a direção é de baixa qualidade, já que se perderam na tarefa de distinguir vilões dos bonzinhos, quando os deixou confuso em capítulos, como por exemplo, no que tiveram que escolher entre Moro ou Bolsonaro; entre o Covid-19 e a economia; entre a sensatez e a ignorância; entre a seriedade quando o assunto  outro e a arrogância do discurso baseado somente na autoridade. E desta forma seguimos nesse projeto de sociedade que segue roteiros novelescos ao invés do compromisso com a dignidade humana e a divisão dos bens que garantem a vida com dignidade.

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