O vídeo da reunião do Bolsonaro e a destruição final da economia brasileira

Na reunião ministerial cujo vídeo foi finalmente ao ar, ficou claro que o governo não fará absolutamente nada para contornar o coronavírus. Nenhum respirador será comprado, nenhum centavo gasto. Não há qualquer plano dos ministérios contra o Covid-19. A reunião, em verdade, foi apenas um encontro para afinar ideologicamente questões econômicas, que consistem basicamente em combinar autoritarismo e o fim dos investimentos estatais no país. 

A reunião começa com o Ministro da Casa Civil Braga Netto insistindo em um plano completamente vazio, no qual não há números, dados, estatísticas, projeções, absolutamente nada, senão uma vontade abstrata em “botar o Brasil pra frente”. Com palavras mágicas, talvez cheguemos à frente do precipício, se já não chegamos.

Depois que Braga Netto fala sobre um “plano Marshall do Brasil”, uma verdadeira piada, Guedes pega o microfone e ridiculariza o Brasil, “porque não somos os EUA”, revelando sua predileção pelo grande capital em detrimento de toda a economia nacional do país. “Vamos ganhar dinheiro com as grandes empresas e perder com as pequeninhas”, disse Guedes. Avisava, assim, que o ministério da Economia não iria abrir o cofre. O general teve que se desculpar, dizendo que se referia apenas a investimentos privados, não estatais.

Insistem com Guedes sobre investimentos do governo, mas ele responde atravessadamente, revelando sua total aversão a qualquer política econômica: “quando a gente deixa os juros altos, reclamam que está caro, quando baixamos, reclamam que não tem lucro”. É melhor deixar as empresas privadas decidirem as taxas. Não haverá política econômica alguma. Governo para quê?

A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ainda tenta, timidamente, pedir para baixar os juros para o agronegócio. Guedes retruca: “o Banco do Brasil não baixa os juros porque o mercado não deixa. Precisamos privatizar”. A lógica não explica. A farsa ideológica fica às claras. 

Guedes então fala de “porra” para se referir ao Banco do Brasil, quando fala que essa “porra” é caso pronto para privatizar. Quer leiloar tudo o quanto antes, vender o barco antes que afunde para ficar com a comissão de leiloeiro.

Superando a tudo e a todos, o presidente do BNDES ainda consegue atacar a própria atividade bancária do banco que administra. Diz que quando chegou ao BNDES, o banco era apenas “uma fábrica de emprestar dinheiro”. Talvez ele não saiba para que serve um banco. Seja como for, ele avisa que isso mudou, que o banco agora presta “serviços a pessoas”, como numa consultoria que o Sebrae presta para os pequenos comerciantes. Em suma, transformou o maior banco de investimentos da América Latina em qualquer coisa, menos em um banco. Um banco de investimento que não oferecerá mais crédito aos produtores.

Tarcísio Freitas, Ministro da Infraestrutura, responsável por preparar a venda das riquezas do país nos leilões na Bolsa B3, diz que o dinheiro das vendas só chegará nos próximos anos e que é preciso dinheiro agora. Faz o alerta, conta uma piada com a qual ele mesmo ri, e não faz mais nada. Nenhuma proposta é feita.

Teich, então Ministro da Saúde, fala brevemente sobre três aspectos de um possível plano e é completamente ignorado na reunião, ninguém dá sequência à proposta. Tanto que umas semanas depois já não fazia mais parte do governo.

Weintraub, um dos principais agitadores do fascismo no governo, alimenta a paranóia e o ‘mimimi’, se fazendo de vítima do comunismo. Não tem nada concreto na fala dele, mas quem dera um dia ele venha a ser a vítima que tanto deseja ser.

Moro passou a reunião toda com a cara emburrada. Parecia chateado que a relação com o presidente havia desandado. Climão de DR. Deve ter ficado triste porque Bolsonaro havia dito que “troca qualquer um”. Mas logo ele, o insubstituível? Na hora de falar, o então super-ministro, profere apenas palavras genéricas sobre corrupção, pedindo que o Pro-Brasil de Braga Netto pense também na luta contra a corrupção. Quác! 

Vários ministros falaram em prender alguém, algemar alguma cosia. Weintraub fala em mandar prender o STF. Damares, em processar e mandar prender governadores e prefeitos. Um disse que se a filha fosse presa, matava quem prendesse. Bolsonaro fala então que ninguém coloca algema na família ou nos amigos dele. Quando fala em interferir na Polícia Federal e em substituir ministros não olha pro General Heleno, do GSI, mas para Moro. Salles declara querer acabar com as leis, aproveitando que o foco está nas mortes por Covid. O oportunismo está nu.

E assim se passou uma reunião ministerial, sem haver qualquer proposta, nenhum projeto, nenhum plano orçamentário, nada, salvo ataques às leis e à justiça. O mercado gostou, a bolsa subiu. Sai mais barato não ter o Estado brasileiro competindo e impondo deveres e obrigações às atividades de exploração econômica. Afinal, é caro ser regularizado, ter que pagar direitos, impostos, prestar contas. Também é caro litigar, o melhor seria não ter que pagar os bilhões de tributos que se deve à justiça. Prender a justiça antes de ser preso, então, seria ainda melhor! 

Destruir a ordem constitucional cidadã parece ser o único programa econômico do governo federal. Se, por um lado, é verdade que a Constituição Cidadã de 1988 não é de fato efetiva, com uma série de princípios que nem sequer são lembrados, como o combate à pobreza, por exemplo; por outro, há uma clara compreensão por parte da burguesia e do empresariado de que os direitos no Brasil são muito caros, que seria bem mais barato um estado de coisas semelhante à escravidão, no qual direitos fossem reservados apenas a uma pequena parcela da população. 

O vídeo apenas explicitou os propósitos já conhecidos do projeto bolsonarista, colocando em evidência os seus métodos, que agora vão tomando contornos mais agudos. Trata-se de um grande plano de desivestimento da sociedade, retirando direitos sociais, ambientais e dos trabalhadores. A maneira de alcançar isso é com ataques e arroubos contra as instituições que exercem o controle institucional do poder, como o Judiciário e o Congresso. Se antes se reclamava que a justiça e o parlamento eram entidades conservadoras, agora até estes são atacados diantes da violência maior que se quer impôr. O objetivo é redesenhar a institucionalidade nacional, desfigurar os direitos consagrados no pedaço de papel constitucional e alterar o lema da bandeira, de “Ordem e Progresso” para “Autoritarismo & Capital”. 

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