Existe escravidão nos EUA?

Os recentes protestos, que explodiram em várias partes dos EUA pelo assassinato de George Floyd por um policial branco, revelam o ambiente altamente explosivo que os aparatos de repressão racial geraram no país. Mas afinal, existe escravidão nos EUA? Aparentemente, não. No entanto, se perguntarmos: – existem pessoas sendo forçadas a trabalhar, literalmente, com uma arma apontada para elas, sem que elas possam desfrutar do resultado de seu trabalho? Aí, teríamos que responder sim. Mas como? O documentário “13ª Emenda” revela essa verdade inconveniente.  

Em primeiro lugar, devemos notar que embora os EUA possuem 5% da população mundial, eles possuem 25% de toda a população carcerária do mundo. A famosa 13ª Emenda da constituição americana afirma que nenhum cidadão americano pode ser mantido escravo, com algumas exceções, que incluem CRIMINOSOS. Temos aí uma brecha no direito americano que permite à juristas profissionais desenvolver mecanismos para que o Estado americano, assim como empresas privadas, se beneficiem de MÃO DE OBRA FORÇADA.

Quatro milhões de pessoas, que eram parte essencial do sistema de produção no sul do país se tornam cidadãos livres após a Guerra-civil americana. Aproveitando essa brecha na constituição, qual permitiu escravizar criminosos, iniciou-se um processo de encarceramento em massa de negros no país. Pessoas foram presas por crimes insignificantes como “vadiagem” ou “vagabundagem”. Para corroborar a este projeto de encarceração e “reescravização”, agora juridicamente e moralmente legalizados, Hollywood começou a representar o negro americano como uma ameaça em potencial, como um potencial criminoso. Por exemplo, por meio do famoso filme “Nascimento de uma Nação”, o qual exibe a história de uma mulher branca que se joga de um abismo para não ser violentada por um criminoso negro. Hollywood fez o mesmo com árabes na década de 1960 e desde muito tempo tem ditado o comportamento e os sistemas de organizações sociais nos EUA.      

Com a “Guerra às Drogas”, iniciada por Nixon, pessoas negras foram encarceradas, por praticamente toda a vida, por estarem portando pequenas quantidades de maconha ou cocaína. Quando Reagen, anos depois, atribuiu uma sentença muito maior para consumidores de crack do que de outras drogas, a encarceração em massa explodiu nas comunidades pobres no país. Para piorar, ainda mais, Bill Clinton instituiu os “três strikes”, ou seja, toda pessoa que fosse presa três vezes por crimes “graves” (por exemplo, portar pequenas quantidades de drogas) seriam condenadas à PRISÃO PERPÉTUA. Imagina.  

Os EUA, na verdade, nunca aboliram a escravidão, e com o lobby privado legalizado, empresas, como a ALEC, exercem influência e praticamente assediam diariamente senadores para aprovarem leis para o benefício de uma pequena classe. Como a lei que permitiu  o encarceramento em massa de imigrantes ilegais. Contratos entre empresas privadas e cadeias privadas tem crescido nos EUA. Em uma reportagem da ABC News, intitulada “Os prisioneiros federais irão roubar o seu emprego? (Will a Federal Prisoner Steal Your Job?) afirma que a empresa “Trabalhadores UNICOR”, que produz desde cortinas à sistemas de iluminação, fatura cerca de US$ 900 milhões, utilizando TRABALHO FORÇADO de sistemas carcerários privados. Essas empresas que utilizam trabalho forçado estão em todo lugar nos EUA, desde Microsoft, Boeing e empresas terceirizadas que trabalham para o Exército Americano. A JCPenney e a Victoria’s Secrets trocaram de fornecedores após terem sido expostas utilizando mão de obra forçada.  
    
Os EUA já não pode mais manter a ideologia do “sonho americano”. A pandemia revelou o que acontece com uma nação sem NENHUM SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE, já são quase 2 milhões de infectados com a COVID-19 e mais de 100 mil mortos. Com mais de 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, em uma reportagem de um jornal de Minneapolis (onde George Floyd foi assassinado) dizia que existiam mais de 600 mil moradores de rua e mais de 3.6 milhões de residências vazias nos EUA (seis vezes mais). Vimos, que de fato, o sistema americano não só impôs leis de encarceração em massa racistas nos EUA, durante todo os últimos dois séculos, mas fez isso visando beneficiar-se da mão de obra forçada. As manifestações que começaram em Minneapolis e se espalharam por todo país refletem este ambiente altamente inflamado em que os EUA se constituíram.    

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