Bolsonaro recria o Ministério das Comunicações para entregar o 5G aos EUA

Luã Reis – Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações, desmembrando a pasta da Ciência e Tecnologia. O deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), dono de rádios e genro de Sílvio Santos, foi colocado como o ministro e o assessor olavista Filipe Martins foi nomeado o número 2 da pasta. A imprensa noticiou que a indicação do deputado do partido de Gilberto Kassab seria um agrado ao fisiologismo do Centrão enquanto a disseminação das fakenews ficaria sob responsabilidade de Martins, funcionário de Olavo de Carvalho.

Propósitos menos prosaicos estão em jogo, no entanto. 

O Ministério da Comunicações será responsável pelo leilão, a entrada e a regulação do 5G no Brasil, através da ANATEL. A tecnologia promete mudar a velocidade das conexões, alterando as perspectivas de interação entre os diferentes aparelhos. As possibilidades da nova tecnologias são múltiplas. A empresa chinesa Huwaei é líder do desenvolvimento do 5G, enquanto as escandinavas Nokia e Ericsson tentam alcança-la. Na falta de uma empresa americana competitiva, o governo dos Estados Unidos apoia as empresas europeias para tentar barrar a tecnologia chinesa. Há, portanto, uma batalha geopolítica entre a China e os EUA-Europa pelos mercados da nova tecnologia.

Nessa semana, o 4chanceler, Ernesto Araujo, também um office-boy de Olavo de Carvalho, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno pressionaram para que se impedisse a participação dos chineses do leilão brasileira. Araujo, repetindo a propaganda dos EUA, acusou sem provas a China de espionagem e falhas de segurança. A ala militar e ala ideológica estão, portanto, plenamente alinhadas nessa questão chave. Contrariando a declaração de Mourão que, em maio, havia dito que o Brasil permitiria a concorrência chinesa.

Bolsonaro cumprindo às ordens desses representantes dos EUA, declarou em uma live que: “Temos pela frente a questão do 5G, houve orientação minha, antes que falem interferência, como proceder nessa questão. Faremos o melhor negócio levando em conta vários aspectos, não só o econômico. Às vezes, o mais barato não quer dizer que seja o melhor. Vamos atender os requisitos da segurança de dados, a política externa entra nesta questão também.”

Bolsonaro admite que os brasileiros terão uma tecnologia mais cara e pior, para obedecer às ordens de Trump e aos interesses dos EUA.  A alegação de que a Huwaei ameaça a “segurança de dados” é simplesmente mentirosa, afinal a empresa já opera no Brasil nas redes 3G e 4G. A empresa chinesa é a principal fornecedora da Vivo, além de outras operadoras, como Tim e Claro.

O leilão, aliás, não será disputado pelas fornecedoras de tecnologia como a Huwaei, Ericsson e Nokia, mas sim pela operadoras Vivo, Tim e Claro. As operadoras afirmam que a Huwaei é segura, como declara Christian Gebara, diretor da Vivo: “Hoje nós temos a Huawei como fornecedor e cumprimos todos os protocolos de segurança locais e globais, o que nos dá segurança de que nada que a gente emprega da Huawei põe em risco a companhia ou os consumidores”.

Além da defasagem tecnológica, a escalada dos ataques contra Huwaei poderá trazer até mesmo dificuldades para as operações já em curso no Brasil

A Vivo pertence ao grupo espanhol Telefônica. A União Europeia tem resistido as investidas americanas que visam impedir que os aliados utilizem a tecnologia chinesa. Fora do grupo europeu, o Reino Unido já cedeu à pressão. A Itália, por outro lado, já utiliza o 5G da Huwaei, Alemanha e França se inclinam na mesma direção. Apesar de terem opções europeias de fornecedores, muitos na UE preferem os chineses. A questão é um dos muitos pontos de atrito recente entre europeus e americanos.  

No Brasil, o Ministério das Comunicações será a ponta de lança dos interesses dos EUA com relação ao 5G. Evidente que o novo ministro loteará com cargos e benesses os políticos do centrão para que se realize a agenda legislativa de Bolsonaro, Faria fará o que as grandes emissoras de TV e rádio mandarem, mas privilegiando as mais governistas. Também é óbvio que Martins perseguirá nas redes as vozes opositoras. Ambos, no entanto, antes de tudo servirão aos interesses vindo do norte do continente.

O fisiologismo, a corrupção, as fakenews, as mentiras, o cerco a liberdade de expressão, a mídia chapa-branca, os ataques à imprensa livre: tudo isso estará na pauta do novo Ministério das Comunicações, mas não em nome do governo e, antes de tudo, sob o real slogan bolsonarista, “America First”.

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