Hoje na história: o imperialismo é obrigado a libertar Mandela

Via Opera Mundi e DW

Depois de 28 anos encarcerado, Nelson Mandela foi libertado, neste dia, em 1990. Suas primeiras palavras em liberdade foram abafadas pelas vozes de seus correligionários, que cantavam em clima de festa o hino Deus salve a África. Eles já pressentiam que o apartheid estava com os dias contados.

“Estou feliz e, ao mesmo tempo, profundamente triste em poder voltar a Soweto. O que me entristece é ver que vocês continuam sofrendo sob o sistema desumano do apartheid.”

Também o que aconteceu nas décadas que antecederam esse dia nunca será esquecido pela África do Sul. Nelson Mandela, líder do então proibido Congresso Nacional Africano (CNA), passara a viver na clandestinidade em 1961. Ele havia jurado que lutaria, se necessário até com armas, contra a discriminação racial garantida por lei.

O Congresso Nacional Africano

A oposição ao regime do apartheid intensificou-se a partir dos anos 50, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), fundado em 1912, lançou uma campanha de desobediência civil. Em 1960, depois do massacre de 67 negros pela polícia numa manifestação, o CNA foi declarado ilegal.

Segundo Mandela, muitas pessoas notaram então que não fazia sentido falar de paz e não-violência diante de um governo que respondia com ataques brutais contra pessoas desarmadas e desprotegidas. Mas, antes que o CNA pudesse começar a responder à violência com violência, Mandela e vários companheiros foram presos e levados a tribunal.

Prisão perpétua

Mandela esperava para si e seus amigos a pena de morte. O juiz Quartus de Wet, no entanto, anunciou no dia 12 de junho de 1964 que decidira não aplicar a pena máxima. Sob o argumento de estar apenas cumprindo sua obrigação e que esta era a única clemência possível, ele condenou todos os acusados à prisão perpétua. O então prisioneiro político mais conhecido do mundo seria libertado só em fevereiro de 1990.

O hino do ANC virou hino nacional e Nelson Mandela foi eleito, em 1994, primeiro presidente negro da história da África do Sul. Em outubro do mesmo ano, recebeu junto com o último presidente branco, Frederik de Klerk, o Prêmio Nobel da Paz.

O ex-agente admite participação da CIA na prisão (pra variar)

O ex-agente dos EUA admitiu envolvimento da CIA em prisão de Nelson Mandela. Donald Rickard entregou Mandela a regime do apartheid, provocando sua prisão. Estas declarações estão em filme estrelado há cinco anos em Cannes.

O ex-agente da CIA (Agência de Inteligência Central) Donald Rickard admitiu o envolvimento da agência norte-americana na prisão do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, em 1962, como revelou o jornal dominical britânico The Sunday Times.

Segundo Rickard, que trabalhava como vice-cônsul norte-americano na cidade de Durban, costa leste da África do Sul, e como agente da CIA na época, a prisão de Mandela era necessária porque os EUA acreditavam que ele estava “completamente sob o controle da União Soviética”. O ex-agente, que não demonstrou arrependimento, de acordo com o Sunday Times, acreditava que Mandela era “o comunista mais perigoso do mundo fora da União Soviética”.

“Ele poderia ter incitado uma guerra na África do Sul, os Estados Unidos teriam que se envolver, relutantemente, e as coisas teriam ido por água abaixo. Nós estávamos no limite e aquilo tinha que parar, o que significava que Mandela tinha que ser impedido. E eu o impedi”, disse Rickard. Mandela acabou ficando preso durante 28 anos, sendo solto apenas em 1990.

Rickard, que tinha informantes dentro do partido ANC (Congresso Nacional Africano) – ao qual pertencia Mandela –, deu detalhes à polícia sul-africana sobre o trajeto que Mandela faria durante uma viagem em que voltava para Joanesburgo desde Durban. O ex-presidente foi detido pouco após sair da cidade.

A revelação foi feita durante uma entrevista realizada em março com o cineasta britânico John Irvin, que produziu o documentário “Mandela’s Gun” (“A Arma de Mandela”, em tradução livre). O longa aborda os últimos meses em liberdade do líder sul-africano e estreia nesta semana no festival de cinema de Cannes, na França.
 

Duas semanas depois de dar seu depoimento ao cineasta, Rickard, que se aposentou da CIA em 1978, morreu. Procurada por diversos veículos, a CIA não quis se posicionar e se recusou a divulgar os arquivos detalhando suas atividades na época.

Após a revelação, Zizi Kodwa, o porta-voz nacional do ANC, disse ser uma “acusação muito séria”. “Nós sempre soubemos que havia colaborações entre países ocidentais e o regime do apartheid”, afirmou ele à AFP.

Segundo Kodwa, a CIA continua interferindo na política da África do Sul. “Eles nunca pararam de operar aqui. Ainda está acontecendo agora – a CIA ainda está colaborando com aqueles que querem uma mudança de regime”, argumentou.

O neto do líder, Mandla Mandela, também se pronunciou pedindo ao presidente dos EUA, Barack Obama, a divulgação na íntegra dos eventos que levaram à detenção de seu avô.

“Enquanto nós sempre estivemos cientes das operações, secretas ou não, do Ocidente em apoio ao apartheid, esta descoberta coloca um fim a décadas de negação [da CIA], revelando que os EUA colocam seus interesses imperialistas acima da luta e libertação de milhões de pessoas”, disse o neto de Mandela, um deputado da ANC, ao jornal britânico The Telegraph.

“Convocamos os amantes da liberdade do mundo a condenarem essa traição à nossa nação, ao povo da África do Sul e todos aqueles que sofreram em consequência do apoio dos EUA ao brutal estado do apartheid”, disse Mandla.

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