Hoje na história: O narcoestado mandou matar Marielle

Marielle, socióloga, negra e ativista, que denunciava constantemente a violência do 41º Batalhão, o mais letal do Rio, cuja violência e truculência, coincidentemente, aumentaram exponencialmente após intervenção federal.

Por que Marielle foi assassinada

Dia 28 de fevereiro de 2018, Marielle assume a relatoria da comissão de Direitos Humanos que acompanharia a Intervenção Federal no Rio. Dia 10 de março, Marielle vocaliza as denúncias de moradores de Acari e do coletivo Fala Akari, cujos membros por diversas vezes já sofreram atentados e ameaças². Dia 14 de março, ocorre a primeira inspeção do exército em um batalhão da polícia, nesse mesmo dia, à noite, Marielle então foi executada.

O crime é político. Resta saber quem se beneficia, quem são os mandantes? O crime ocorreu durante a Intervenção Federal, anunciada como tendo o propósito de reduzir os índices criminais da cidade. Alguns elementos estão evidentes: a execução é um recado aos “Direitos Humanos”.

Narcoestado

Na Colômbia, o narcoestado está consolidado desde o período das guerrilhas marxistas. Sob o pretexto de combater o narcotráfico, os EUA organizaram e armaram a direita colombiana com milícias paramilitares que ainda aterrorizam o interior, apropriando-se dos recursos do tráfico de drogas; mais do que isso, a milícia paramilitar da extrema-direita colombiana é utilizada para cometer atentados políticos contra a esquerda. O último deles foi contra o candidato à presidência Gustavo Petro³. No México, o narcoestado é mais do que evidenciado. Nas ruas do distrito federal, a capital Ciudad de México, pichações em toda parte denunciam os assassinos dos 43 estudantes secundaristas de Ayotznipa: “Fue el Estado”. No México, à semelhança da Colômbia, o narcoestado é armado com fuzis e pistolas estadunidenses, numa confusão intencional entre polícias locais, militares do exército e forças de seguranças federais, tudo organizado no alto escalão político do congresso e ministérios.

E o que isso diz sobre o Brasil? A situação se prenuncia com muita semelhança. O governo golpista instalado no executivo federal se esforça em organizar, centralizadamente, um tráfico que antes era organizado apenas dissociadamente, no cada um por si, cada estado a seu modo. As chacinas dos presídios em diversos estados brasileiros, motivadas por guerra de facções, não foi contida pelo governo; ao contrário, o governo fez questão de cercar o presídio de Alcaçuz (RN) e assistir a chacina, com direito a cabeças decapitadas e recados de declaração de guerras ou então de alianças entre as forças do tráfico. O Ministro da Justiça, à época, era Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança do Estado de São Paulo e ex-advogado do Primeiro Comando da Capital (PCC) em uma série de processos criminais. Hoje, ministro do STF, Alexandre de Moraes logrou sua cadeira vitalícia graça a uma queda de avião que levava o Ministro Teori Zavascki, nada menos que o relator da Lava-jato e responsável, naquela semana, por apresentar a denúncia do alto escalão político envolvido na espetaculosa investigação da Polícia Federal. Podemos remontar toda essa situação ao início do governo Cabral no estado do Rio de Janeiro. Cabral, do PMDB, organizou as UPPs de modo que elas fossem exatamente implementadas prioritariamente na Zona Sul da cidade, mas, sobretudo e fundamentalmente, nas áreas sob domínio do Comando Vermelho (CV), até então maior facção do tráfico local.

A consequência disso todos conhecem: abriu espaço para as milícias paramilitares, organizadas por agentes públicos da segurança, instalarem-se em áreas até então “novas”; também as UPPs foram responsáveis por forçar novas alianças entre o tráfico, como a realizada entre o Terceiro Comando (TCP) e o Amigos dos Amigos (ADA), e ainda entre estes e o PCC.

Em junho de 2013, para além das manifestações inflamadas por forças imperialistas, dentre as diversas pautas políticas orgânicas que surgiram das ruas, as palavras de ordem: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar”, foi a que prevaleceu e marcou a diferença crucial entre aqueles manifestantes de esquerda de junho de 2013 e os manifestoches de direita de 2014.

O Helicóptero abarrotado de pasta-base de cocaína dos Perrela (PSDB) não tem nada a ver com isso. A pista para aviões de Claúdio-MG, em fazenda da família de Aécio Neves, apenas há alguns quilômetros onde o helicóptero de Perrela pousou, também não tem nada a ver. Fazendas de Osmar Serraglio investigadas pela polícia federal como rota de tráfico internacional não devem levantar suspeitas. São todos incólumes e nada acontece no país da feijoada. Hoje, a intervenção federal se apresenta de maneira salvacionista. Seu argumento principal é: a polícia do Rio de Janeiro é indisciplinada, precisamos organizá-la, centralizá-la, saneá-la. A quais interesses servem os militares da polícia e do exército? Certamente são os mesmos, pois quem os comanda são os mesmos golpistas no poder. O Narcoestado brasileiro vai se organizando, de morte em morte, de notícia midiática em notícia midiática.

Marielle foi executada com quatro tiros na cabeça. Quem matou Marielle? O Narcoestado.

¹ http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-492996-lider-que-denunciava-hydro-e-teve-protecao-de-vida-negada-pelo-governo-e-assassinado.html

² https://ponte.org/moradores-acari-denunciam-ameacados/

³ https://twitter.com/petrogustavo/status/970326794258866177 https://br.sputniknews.com/americas/2018030310649477-gustavo-petro-colombia/

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