Bashar al Assad: “Quando o dólar perder sua hegemonia econômica, um mundo multipolar emergirá”

Via Actualidad

“Estou disposto a me encontrar com Erdogan assim que as tropas turcas se retirarem de nosso território”, disse o presidente sírio, Bashar al Assad, em entrevista à RT. Por outro lado, considera prioritário levantar o bloqueio ao seu país, para que os EUA deixem de apoiar o terrorismo e retirem os seus soldados do território sírio. Ele acrescenta que a Síria precisa de cerca de 50 bilhões de dólares para se recuperar do terremoto e também compartilha sua visão sobre a nova ordem mundial.

Embora os EUA continuem a ser uma “superpotência global”, o papel de Washington, que junto com o Ocidente trava “uma guerra existencial”, está diminuindo cada vez mais, enquanto um mundo multipolar está se formando. A opinião é do presidente sírio, Bashar al Assad, que concedeu entrevista exclusiva ao canal RT em árabe.

O presidente do país árabe, que se reuniu nesta quarta-feira no Kremlin com o presidente russo, Vladimir Putin, destacou que “grupos de pressão” em Washington começaram a perder “sua hegemonia absoluta” em diferentes áreas. “A maior fraqueza dos EUA é o dólar. Quando o dólar deixar o pináculo da hegemonia econômica, então o equilíbrio de poder no mundo mudará e um mundo multipolar emergirá. Mas se, apesar da multipolaridade política e militar, ele continuar a domínio do dólar, o mundo continuará unipolar”, destacou.

“Reconciliar abordagens comuns”

Sobre sua visita oficial à Rússia esta semana, Al Assad destacou que o objetivo da viagem e seu encontro com o presidente Vladimir Putin foi “reconciliar as abordagens comuns” de ambas as nações diante de “um mundo em mudança”, que, segundo ele, disse – “isso nos afeta todos os dias.”

Ao mesmo tempo, destacou que as delegações centraram seu diálogo em questões econômicas, tendo em vista as consequências do terremoto que atingiu a Síria e a Turquia no início de fevereiro.

Tropas ilegais na Síria

Por outro lado, Al Assad reiterou que as tropas dos EUA e da Turquia devem deixar o território sírio onde se encontram ilegalmente. “Não há outras tropas que estão na Síria ilegalmente”, disse ele.

Nesse sentido, atacou o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, que defende a presença de Ancara no norte da Síria como parte de sua luta contra os movimentos curdos. “Se não é uma ocupação, então o que é? Nós os convidamos para visitar a Síria? Qual é a lógica disso? Não sei em que lei se baseia”, disse ele. A esse respeito, ele lembrou que os atuais problemas de segurança na fronteira foram causados ​​por Ancara.

Reunião com Erdogan?

O presidente enfatizou que não descarta um encontro com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, embora tenha condicionado esse encontro à retirada das tropas de Ancara. “Caso estejam reunidas as condições, não marcaremos nenhuma data especial. Podemos nos encontrar hoje ou amanhã”, afirmou.

No entanto, sublinhou que “ninguém pode” confiar nas políticas do presidente turco, nem nas suas garantias, porque Erdogan “muda as suas políticas como se fosse um círculo vicioso”.

Sanções e terremoto

Por outro lado, Al Assad denunciou que, apesar das declarações ocidentais de que algumas sanções contra a Síria foram suspensas após o terremoto, “só foi dada permissão para fornecer alguma ajuda humanitária”. “Para o desenvolvimento da economia, da indústria e do comércio é preciso garantir a disponibilidade de diversos alimentos e outros itens básicos essenciais para a população de qualquer país. Mas nesse sentido nada mudou”, lamentou.

Sobre as consequências do terremoto, o presidente indicou que as estimativas preliminares indicam que serão necessários “quase 50 bilhões de dólares” para reconstruir a infra-estrutura danificada. Al Assad insistiu que se trata de um valor aproximado, pois os cálculos ainda não foram concluídos.

A mentira como ferramenta do Ocidente

Questionado se o Ocidente está mentindo sobre o levantamento parcial das sanções, o chefe de Estado árabe afirmou que a questão síria é apenas uma das muitas sobre as quais o Ocidente não está dizendo a verdade. “Se você não mente, não pode ser um representante do Ocidente. Essa é a realidade atual. Não estou exagerando. […] Mesmo quando a relação entre a Síria e o Ocidente era boa, mentiras e hipocrisia por parte do Ocidente em direção à Síria já existiam”, disse ele.

Neste contexto, sustentou que o Ocidente aplica a mesma prática de “mentiras e hipocrisia” no contexto do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e “qualquer outra crise em geral”.

Mundo árabe

Sobre a possibilidade de participar da cúpula da Liga dos Estados Árabes, onde a participação de Damasco está suspensa desde 2011, Al Assad declarou que, antes de tudo, a Síria deve ser restabelecida como membro pleno da organização. Da mesma forma, reconheceu que as condições para o regresso “ainda não são favoráveis”.

“Nessas circunstâncias, a Liga Árabe se tornou principalmente um espaço de acerto de contas. Assim, a Síria só poderá voltar quando superar suas divisões internas e começar a tomar decisões consensuais”, argumentou. Nessa linha, ele afirmou que outra condição para o retorno de Damasco é o restabelecimento das relações bilaterais entre a Síria e outros países árabes.

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