OS TRÊS PATETAS NO CONGRESSO E A MISÉRIA INTELECTUAL DO GOVERNO BOLSONARO

Por Kissel Goldblum

Ontem, os três patetas, vedetes ideológicas do governo Bolsonaro, participaram de diferentes reuniões no congresso para explicar os projetos de governo na área de seus respectivos ministérios. Tivemos a audiência na Câmara dos Deputados com o Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que revelou a absoluta incapacidade do ministro para gerir um dos principais ministérios do governo. Vélez não apresentou nenhuma proposta positiva, além do já velho blá blá blá anticomunista da “escola sem partido”. O ministro também não soube informar dados básicos da educação no Brasil sem consultar um secretário ou suplente. A deputada Tabata Amaral (PDT) lembrou que o posicionamento do ministro, negligenciando a importância de conhecer a estrutura do sistema brasileiro, é simplesmente um enorme desrespeito aos deputados e ao povo brasileiro. Para finalizar, o deputado Túlio Gadêlha disse a Vélez que ele deu um “péssimo exemplo, pois veio para a prova sem estudar”. 

Tivemos também a reunião da comissão de relações exteriores com o ministro Ernesto Araújo que seguindo a lógico de Vélez (a mesma do Governo Bolsonaro) também não apresentou propositivo, fora do surrado discurso da Guerra Fria. Ao ser questionado pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL) sobre sobre a recusa do Brasil em apoiar uma orientação internacional da ONU sobre saúde da mulher, o ministro se enrolou completamente e se quer compreendeu a pergunta. Ernesto chegou a dizer que não houve golpe em 1964. Para ele, foi um “movimento necessário para que o Brasil não se tornasse uma ditadura” [!?]. Alessandro Molon afirmou que esta declaração é um “acinte à História brasileira e a todos que sofreram neste período sombrio do nosso país”. 

O terceiro pateta, o ministro da economia Paulo Guedes foi até a sessão da Comissão dos Assuntos Econômicos (CAE) do Senado defender a farsa da Reforma da Previdência. Além de bater boca com a senadora Katia Abreu e falar mal do governo anterior, expôs seu brilhante “plano” que consiste em desmontar o Estado brasileiro, colocar todos os recursos da união com os Estados e municípios. Ao ser questionado sobre sobre a eventual não aprovação das reformas, disse que sem a reforma da Previdência deixaria o governo.

Ricardo Vélez é a materialização dos professores que os eleitores de Bolsonaro nunca tiveram, é a causa farsante que surge após o efeito para tentar mascarar as causas reais. É a classe média que diz que “o brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”, como o mesmo Velez disse em entrevista à Veja. Os eleitores de Bolsonaro foram educados por uma gigantesca empresa de fake news, cujo objetivo foi apenas eleger algum representante da elite elite. Estes encontraram no evento da facada a solução “caída do céus” que poderia eleger a direita sem um golpe militar explícito. Acontece que houve exigências da teoria que não foram formuladas teoricamente: seria necessário conservar este ambiente de ilusões e fake news durante todo o governo porque, do contrário, as estruturas que elegeram a direita se despedaçariam. 

A elite apostou todas as suas fichas na construção de fake news que tinham como objetivo fazer com que o maior número de pessoas acreditasse que existia uma “crise” e que os únicos culpados eram o Lula e o PT porque “destruíram” o Brasil econômica e moralmente. Assim, a solução para a “crise” começava apenas quando tirassem o PT do governo. “Na mosca!”. Steven Bannon administrou uma gigantesca rede de fake news que fez com que as pessoas votassem em qualquer um “menos no PT” e após retirarem o ex-presidente Lula da corrida eleitoral (o candidato com 70% das intenções de votos à época), além de uma série de outras estratégias jurídico-eleitorais, como a anulação de 3 milhões de votos de cidades na região nordestes conhecidas por  serem redutos da esquerda, conseguiram desequilibrar a luta de classes e alcançar o governo. 

“Você pode enganar algumas pessoas durante um tempo, mas não pode enganar todo mundo durante todo tempo”.

Até mesmo as pessoas menos esclarecidas já descobriram que nunca houve “mamadeira de piroca” ou “kit-gay”. Todavia, existem outras mentiras, algumas tão enraizadas que são mais difíceis de compreender: “a razão da existência da Operação Lava-Jato foi prender o Lula e assim tirar o PT do governo”. Esta mentira é mais complexa de ser desfeita, exige mais tempo, porque, afinal, ela já está aí há tantos anos que até os menos céticos pensam “mas será mesmo, o objetivo era prender o Lula?”. Sim. Este é o eixo que define a luta de classes – a prisão do Lula – ela revela o abandono da disputa democrática republicana por parte da elite. Obviamente, somos livres, imaginativamente, para analisar a sociedade sob qualquer ótica, como da psicologia, ou da perspectiva culturalista, no entanto, a sociedade deve ser analisada, fundamentalmente, da perspectiva da sua produção econômica, ou seja, da perspectiva da luta de classes, o que a elite entende muito bem. Sendo assim, dessa maneira, à medida que a farsa da lava-jato se torna evidente o ex-presidente Lula se aproxima mais da liberdade.  

Após menos de 3 meses, a incapacidade administrativa de um governo cujo presidente, em mais de 30 anos na política nunca aprovou nenhum projeto, fica evidente, e até jornalistas de direita, como Reinaldo Azevedo, já vislumbram o seu fim. As audiências na Câmara dos Deputados e no Senado no dia de ontem evidenciaram que este governo não tem projeto político: a Educação e as Relações Exteriores, duas das principais pastas, não têm projeto algum. Paulo Guedes utiliza o mesmo modelo de criação de “crises”, que a elite tem utilizado, para apresentar sua solução à suposta “crise da previdência”, entretanto, cedo ou tarde todos O ministro não sabe de nada, não propõe nada positivamente, mantém o mesmo padrão de fake news das eleições. O próprio presidente da câmara, Rodrigo Maia afirmou:  “O governo é um deserto de ideias […] Se tem propostas, eu não as conheço. Qual é o projeto do governo Bolsonaro fora a Previdência? Não se sabe”. O ministro da educação, assim como todo esse governo, é uma coisa passageira, um susto, temos um ministro da educação colombiano, alguém que nunca vai entender a grandeza de Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, ou dos contemporâneos Jessé Souza e José Murilo de Carvalho. Quanto tempo pode durar um governo sem Governo? 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *