A PRISÃO DE ASSANGE NO MESMO DIA DO GOLPE CONTRA CHÁVEZ: HIPOCRISIA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Por Luã Reis

O dia 11 de abril de 2002 entrou para a história da América Latina quando o governo de Hugo Chávez foi derrubado por um Golpe de Estado patrocinado e direcionado pelos EUA. O 11 de abril de 2019 também já tem seu lugar na história da infâmia do continente: o dia da entrega da vida de Julian Assange por Lenín Moreno, presidente da Equador, patrocinado e direcionado pelos EUA.

A Wikileaks, portal fundada por Assange, dedicou-se a revelar os bárbaros crimes cometidos pelas guerras dos EUA e OTAN, especialmente os enormes massacres contra os povos do Iraque, do Afeganistão e da Líbia. A Wikileaks também divulgou a espionagem contra a Petrobrás e o Brasil promovida pelo governo norte-americano.

A definição mais precisa do ato de Moreno foi do ex-presidente equatoriano Rafael Correa: “O maior traidor da história equatoriana e latino-americana, Lenín Moreno, permitiu que a polícia britânica entrasse na nossa embaixada em Londres para prender Assange. Moreno é um corrupto, e o que ele fez é um crime que a humanidade jamais se esquecerá.”

Na prática, Lenín condenou Assange a morte por conta das informações publicadas pela Wikileaks. O presidente do Equador não difere do príncipe saudita Mohammed bin Salman que manda esquartejar os desafetos.

Desde 2012, Assange estava vivendo na embaixada do Equador em Londres, sofrendo todo tipo de pressão e constrangimento do serviço secreto britânico. Ele é autor de um programa transmitido na televisão RT, que ganhou um prêmio nos Festivais de Nova York em 2013. Nessa semana, a WikiLeaks denunciou que Assange estava sendo espionado pelo governo Lenín Moreno, dentro da embaixada, com o objetivo extraditá-lo.

Cabe lembrar que a Wikileaks não está sediada nos EUA. Assange não é cidadão americano. A bizarra justificativa da extradição não encontra justificativa cabível.

Desde que a Wikileaks entrou em ação, no início da década de 2010, não se provou que tenha publicado uma única informação falsa. Não faltaram processos, intimidações e acusações mentirosas. Só que diferente da esmagadora maioria da imprensa mundial, a Wikileaks publica informações documentadas.

O golpe contra Chávez naquele 11 de abril só foi possível graças a uma intensa campanha midiática contra o governo da Venezuela, movida por canais de televisão e de rádio, representantes dos interesses das oligarquias e  dos estrangeiros no país. Os canais de televisão cometeram uma série de crimes no período, cuja gravidade seria punida com a perda concessão em qualquer país europeu ou no próprio Estados Unidos. Entre os mais evidentes crimes estavam a suspensão dos pronunciamentos de Chávez, a convocação de protestos da oposição e própria organização do golpe de Estado, com reunião entre militares, funcionários dos EUA e donos de canais de TV.

Kim Bartley e Donnacha O’Briain impediram que a versão dos donos da mídia prevalecesse. Os diretores irlandeses se pegaram no meio de um golpe de Estado quando gravavam um documentário sobre a Revolução Bolivariana. O golpe em si passou a ser o tema do filme ‘A Revolução não será televisionada’.

Como também não foram televisionados os crimes dos EUA e da OTAN contra os pobres do mundo. A Wikileaks de Assange cumpriu esse papel de Agência de Inteligência dos povos.

Nos dias depois do golpe, o povo da Venezuela tomou as ruas do país exigindo a volta do legítimo presidente Hugo Chávez. As TV’s do mundo tiveram que televisionar aquela revolução. Que a derrota dos golpistas de 11 de abril de 2002 sirva de lição para que esse 11 de abril de 2019 também seja superado. A esperança são os dias seguintes. A Revolução talvez não precise ser televisionada, mas precisará da Wikileaks.

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