Hoje na História: A criação do Estado Livre do Congo (ou o Inferno na Terra)

Hoje, em 1885, foi fundado o Estado Livre do Congo, um dos eventos mais tristes e menos falado da História da humanidade, que causou a morte de 8 a 10 milhões de congoleses. Considerado o inferno pessoal de Leopoldo II da Bélgica, um dos mais sanguinários monarcas de todos os tempos, que regozijava ao decepar os membros dos nativos.

A missão de exploração, capitaneada pelo jornalista Henry Stanley, foi o primeiro marco da entrada europeia no Congo. Durante sua missão, Stanley conseguiu traçar a hidrografia da região e mapear os cursos úteis entre os rios do interior do continente. Voltou vitorioso e tinha planos em mente: ocupar e explorar a nova região encontrada, levando a civilização para as pessoas que lá viviam.

O Estado Livre do Congo se tornou, rapidamente, uma das principais fontes de borracha, diamantes e marfim da Bélgica e de toda Europa. O Estado implementou políticas de exploração do trabalho marcada pelo uso de métodos brutais, como esquartejamentos, mutilação, escravidão, chibata, sequestro de crianças, destruição de vilas, assassinatos em massa e trabalho infantil eram alguns dos traços do regime de trabalho implantado por Leopoldo. Até para a época, a brutalidade usada no Congo era tamanha que só podia ser comparada com a colonização alemã, exemplo de desumanidade na época.

Para impor as cotas de borracha, foi instituída a Force Publique (Força Pública), cujos policiais, na sua maioria, eram canibais do Lualaba. Portando armas modernas e chicotes, os policiais da Força Pública rotineiramente açoitavam, estupravam e torturavam reféns (na maioria mulheres), incineravam aldeias e, acima de tudo, extirpavam as mãos dos trabalhadores quando estes não cumpriam suas cotas de produção.

Um oficial branco de baixa patente descreveu uma incursão para punir uma aldeia que havia protestado:

“Ordenaram-nos a cortar as cabeças dos homens e as pendurar nas cercas da aldeia, bem como seus membros sexuais, e pendurar as mulheres e crianças em forma de cruz”. Após ver um íncola morto pela primeira vez, um missionário dinamarquês escreveu: “O soldado disse: ‘Não leve muito a sério. Eles matam ‘a nós’ se não levarmos a borracha. O comissário nos prometeu que se tivermos muitas mãos, ele encurtará nosso serviço”. Nas palavras de Peter Forbath:

“As cestas de mão cerradas, postas aos pés dos chefe de posto europeus, tornaram-se o símbolo do Estado Livre do Congo. (…) A coleção de mãos se tornou um fim em si mesmo. Os soldados da Força Pública as traziam em vez da borracha; eles até mesmo iam colhê-las em lugar de borracha (…) Elas se tornaram um tipo de moeda. São usadas para amenizar o déficit das cotas de borracha, substituir (…) o povo ao qual é exigido trabalhar para as gangues de trabalhos forçados; e os soldados da Força Pública tinham seus bônus pagos de acordo com o número de mãos que coletavam”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *