A EXTREMA-DIREITA E SEPARATISMOS: O EXEMPLO DO BRASIL E DA ESPANHA

Luã Reis – Quem os movimentos separatistas apoiam na eleição brasileira? uma resposta óbvia. Não é necessário posicionamentos oficiais desses agrupamentos, que embora pequenos fazem barulho, para saber que estão com a extrema-direita. Os movimentos que querem a secessão do sul, de São Paulo, ou de outras unidades da federação, são plenamente integrados e absorvidos pelo bolsonarismo, como os monarquistas, outro exotismo da direita nacional. A adesão à extrema-direita revela a natureza desses grupos.

Analogamente, tal movimentação ocorre na Europa. Os movimentos separatistas são absorvidos pela extrema-direita, como na Bélgica, na Alemanha, na Holanda, na França e na Áustria. O caso mais emblemático, no entanto, é o da Itália: o segundo partido mais votado, A Liga do Norte, membro da coalizão que governa o país, abandonou o “do Norte”, para ser o partido de extrema-direita de toda a Itália. Como Bolsonaro falando do “coitadismo dos nordestinos”, a Liga tem que representar todos os italianos racistas, xenófobos e islamofóbicos ao passo que também deve lembrar a inferioridade daqueles nascidos no sul da península.

Há um contra exemplo europeu que também ajuda na compreensão da ascensão da extrema-direita mundial. Na Espanha, o partido Vox multiplicou o número de apoiadores em um par de anos. O partido de extrema-direita tem pautas idênticas aos correligionários pelo continente, com a notável exceção que o define: a luta contra ao separatismo basco, galego, e, em especial, o catalão, se opondo mesmo a autonomia das regiões. Com a crise aberta pelo independentismo da Catalunha, o herdeiro histórico do franquismo, isto é do fascismo espanhol, o Partido Popular, do ex-primeiro-ministro Mariano Rajoy, não conseguiu conter a crise, obrigando a busca por uma “alternativa” radical. Logo o Vox foi impulsionado, sendo financiado e apoiado pela elite de Madrid, Castela e Navarra. Embora, claro, o PP embala o Vox para atacar a esquerda.

O Podemos, partido nascido dos grandiosos protestos de massa que abalaram a Espanha em 2011, não conseguiu ser uma alternativa radical pela esquerda como demonstra os posicionamentos dúbios na crise catalã. O partido de Pablo Iglesias não ouviu as bases tampouco respeitou o desejo de autodeterminação da maioria dos militantes do partido na Catalunha. A reboque dos partidos da ordem, o Podemos não representa uma ruptura com um regime em crise. Menos ainda representa o partido de esquerda tradicional, o PSOE, no entanto, o Podemos é, ou deveria ser, a novidade radical.

A independência da Catalunha, por vezes, assume motivações chauvinistas: “Barcelona é carrega o resto capenga do país”, “os impostos que a Catalunha paga não ficam na Catalunha”, argumentos que nada diferem dos apresentados pelos separatistas do sul ou de São Paulo no Brasil. O movimento catalão, no entanto, representa, independente dos motivos, uma ruptura à esquerda com o regime, que não nos esqueçamos, é uma monarquia tão corrupta quanto assassina. Os seperatismos brasileiros se revelam como uma reação à direita: mais repulsa a um governo de esquerda que uma reivindicação de autonomia.

Cabe, portanto, diferenciar a autodeterminação dos povos com os disfarces que usa a extrema-direita para tentar impor uma mudança conservadora e a reacionária de regime. A independência da Catalunha, da Galícia, do País Basco é uma expressão da demanda popular contra a monarquia imperialista e capenga.  Enquanto no Brasil os separatismo se unem a redor da extrema-direita, pois são antes de tudo um movimento reacionário e não uma reivindicação popular.

Se o “Sul é meu país”, onde ele está? Embora a extrema-direita grite tanto “acorda Brasil!”, agora esse movimento dorme. No mesmo sono estão outros separatismos, um futuro deslocamento a esquerda dos governos, podem desperta-los. Se o oportunismo dessas movimentos separatistas fica evidente, também revela a natureza radicalmente pragmática da extrema-direita: união ou secessão é questão de ocasião.

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