E O BRASIL NÃO VIROU CUBA, SE TORNOU UMA NOVA PORTO RICO

Por Luã Reis

Os golpistas na ruas em 1964 levavam faixas “O Brasil não será uma nova Cuba”, apoiando a criminosa intervenção contra o governo democrático e constitucional de João Goulart. Pouco mais de 50 anos depois, os golpistas em 2015 exibiam as mesmas faixas, apoiando a criminosa intervenção contra o governo democrático e constitucional de Dilma Rousseff. O desejo golpista realizou-se plenamente: o Brasil está mais do longe que nunca de ser uma nova Cuba. O país socialista, por exemplo, erradicou a mortalidade infantil e o analfabetismo, cumpriu as metas do milênio da ONU, tendo os méritos da sociedade cubana em educação, saúde e segurança reconhecidos até mesmo por insuspeitos jornalistas conservadores. Mas também politicamente, pois a ilha caribenha, apesar de bloqueada e com poucos recursos, se mantém soberana e altiva, bem diferente do país hipotecado aos Estados Unidos pelo submisso governo Bolsonaro.

A explícita demonstração de subserviência dos membros do governo a partir da viagem aos EUA espantou até mesmo os colonizados colunistas da “grande” mídia nacional. Os jornais aceitam e apoiam a venda total do país ao estrangeiro, isto é, entreguem mas que haja algo em troca. A proposta de colonização de Bolsonaro não trouxe nem a promessa de um espelho. O governo age como sucursal de interesses externos e contrários ao povo brasileiro.

A ilha de Porto Rico é oficialmente um “Estado Livre associado aos EUA, sendo um território não incorporado”. Na prática, os porto-riquenhos sofrem as opressões das leis americanas, sem terem os direitos plenos reservados aos cidadãos dos EUA, como votar para presidente. Porto Rico vive em um limbo político que acarreta em miséria para o povo, como o restante da maioria das outras ilhas do caribe. Os porto-riquenhos se reverem ao país também como Boriquén, antigo nome indígena que significa a “terra dos senhores valentes”. Uma antiga canção popular, composta por Rafael Hernández, celebra os heróis das independências da América Latina e lamenta resignado, aguardando quando chegará a vez da boricana tierra:

Bolívar en Venezuela,

en Cuba Maceo y Martí

y en República Argentina

el glorioso San Martín.

Ya le dieron a sus pueblos

patria y media libertad

y a mi borincana tierra

sabe Dios quien le dará.

Na recente passagem de um furacão, que devastou Porto Rico, Trump esnobou a catástrofe e os milhares de mortos. Afinal, não os porto-riquenhos são latinos, portanto, digno do desprezo do líder supremacista dos EUA. Mesmo o governador da ilha, Ricardo Rosselló, um político moderado, nessa semana, chamou Trump de “opressor”, afirmando que o presidente americano trata o os porto-riquenhos como “cidadãos de segunda classe”.  Rosselló prometeu receber Trump com “um soco na boca”.  

Com mais um aniversário do golpe de 1º de abril de 1964, a comparação entre o Brasil e Cuba volta à tona. Certamente não viramos Cuba, como demonstra o caos na saúde, o desrespeito à educação, a insegurança e a total submissão ao governo abertamente supremacista dos EUA. Bolsonaro quer transformar o Brasil em um novo Porto Rico, a qual os americanos, sem precisar de visto, podem vim impunemente, enquanto tratam os brasileiros e demais latino-americanos não como cidadãos de segunda classe, mas como animais, prendendo crianças em gaiolas, por exemplo.

Diante das declarações do governador de Porto Rico, talvez a comparação com o Brasil seja injustiça com a ilha caribenha. Sem dúvida o Brasil de Bolsanaro não foi nem será uma nova Cuba, já é quase uma Porto Rico. Como cantam os porto-riquenhos, cabe aos brasileiros também recordarem os libertadores da América Latina, que deram pátria e media libertad a sus pueblos. Se só Dios sabe quién los dará, sabe Cuba muito bem quem as retira. Cuba não será um novo Brasil, nem Porto Rico deseja ser o novo Brasil de Bolsonaro.

https://www.youtube.com/watch?v=86mUB80YDk4

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