A luta por hegemonia na extrema direita II: Tacla Duran, o homem-bomba da Lava-jato é acionado por Augusto Aras

“Se tu falas muitas palavras sutis 

Se gostas de senhas sussurros ardis 

A lei tem ouvidos pra te delatar 

Nas pedras do teu próprio lar”

Hino de Duran – Chico Buarque

Pouco se explorou na grande imprensa sobre o que advogado do “Departamento de Operações Estruturadas” da Odebrecht (uma espécie de escritório central de compra de favores de agentes públicos atuante em 12 países do continente Latino-americano) tinha a dizer sobre a atuação da sucursal do Departamento de Estado Americano em solo brasileiro, vulgarmente conhecida como “Operação Lava-Jato”.

O ocaso se encarregou de colocar em lados opostos (ok, sabemos, opostos do mesmo lado) Jair Bolsonaro e Sergio Moro, os dois nomes mais cotados no espectro fascista para a disputa presidencial de 2022 (leia em https://estrategiaglobal.org/2020/04/28/a-luta-por-hegemonia-na-extrema-direita-e-as-denuncias-de-sergio-moro-entenda-os-crimes-cometidos-por-jair-bolsonaro/ ).

Entenda o imbróglio:

Em 2016 Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht (atuou empresa entre 2011 e 2016) foi insistentemente assediado pelos membros da Lava-Jato à fazer colaboração premiada, o assédio incluiu até ameaças à sua irmã, também advogada. Duran resistiu às investidas da LJ e levou toda a família para a Espanha, onde se encontra até hoje.

Em novembro de 2016, o ex-juiz Sergio Moro ordenou sua prisão preventiva, sob a acusação de lavagem de dinheiro. O Script lavajateiro já estava montado, prisão por tempo indeterminado como forma de coação (tortura) e exigência de delação de membros do PT como moeda de troca pela liberdade e manutenção de patrimônio. Duran, de nacionalidade espanhola e brasileira, fugiu (o que ele nega) para a Espanha e passou mais de dois meses preso enquanto aguardava seu processo de extradição, negado pela justiça espanhola.

Por ter cidadania espanhola, Duran não poderia ser extraditado, no entanto, seria julgado pelos crimes que lhes eram atribuídos. Desta forma, a justiça espanhola solicitou à justiça brasileira (Sergio Moro) as provas relacionadas à acusação contra Duran, que nunca foram enviadas.

O Caso Tacla Duran guardava especificidades inesperadas e a sucursal americana, a Lava-Jato (e seu senso de oportunismo afiado) ao que tudo indica, teria abraçado o que viu como uma chance de ouro e decidiu matar dois coelhos com uma só cajadada, a saber: 1 – o trivial, a criminalização do PT e; 2 – ganhar dinheiro (lembro do “400 K no bolso de DD?). Afinal de contas, do que adianta colaborar com os americanos e não faturar nada com isso?

Comércio de proteção institucional – A conexão de Moro com o advogado Carlos Zucolotto Junior.

Duran acusa Zucolotto de ser o gerente no comércio de proteção na Lava-Jato e de ter lhe oferecido uma redução da multa a ser paga (de 15 milhões para 5 milhões de dólares), quantia essa que deveria ser depositada em um banco na cidade-estado de Andorra, oferta recusada por Duran.

Quem é Zucolotto? Trata-se do amigo, padrinho de casamento e ex-sócio da esposa de Moro, Rosângela Moro. De acordo com Duran, a própria Odebrecht e o Ministério Público Federal do Paraná ofereceram-lhe um acordo que consistia em confissão de crimes e uma colaboração (previamente minutada) em troca de uma pena domiciliar de seis meses e uma multa de 15 milhões de dólares. No acordo, a Odebrecht arcaria ainda com 15 anos de pagamento de salários mensais (tentador) do seu ex colaborador. Duran se negou a colaborar por questão de princípios, de acordo com o próprio.

Da Espanha, Duran passou a acusar os agentes da Lava-Jato de chantagem para obtenção da confissão de crimes, que segundo o advogado, sequer existiam. Além dessas acusações, Duran, afirma haver um comércio de delações, venda de proteção e acusa a operação de manipulação de documentos incriminatórios, os sistemas de planilhas da Odebrecht Drousys e MyWebDay – utilizados pela Lava Jato para condenar diversos acusados. Em suma, acusa a Lava-Jato de ter se tornado uma organização criminosa.

Em dezembro de 2017, o PT encaminhou à PGR, então ocupada por Rachel Dodge, representação em que pedia a investigação das denúncias feitas por Tacla Duran, sem sucesso, a PGR engavetou a representação alegando falta de provas.

Em junho de 2018, em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados através de videoconferência, em mais de 4 horas de depoimento, Duran confirma todas as acusações, no entanto, a Procuradoria Geral da República engavetou o inquérito alegando ausência de provas, e a imprensa (braço midiático da Lava-Jato e vice-versa) não repercutiu as falas de Duran.

Enquanto Tacla Duran gritava no deserto, Sergio Moro coordenava de fato a operação Lava-Jato, sem maiores preocupações com seu acusador, o Homem Bomba, que inclusive foi arrolado como testemunha de defesa de Lula, requerimento negado por Sergio Moro em flagrante afronta ao direito à ampla defesa.

Incomodado com a popularidade de Sergio Moro (espécie de Bolsonaro semi-qualificado), visto agora como a maior ameaça ao seu projeto de poder e extermínio, Bolsonaro acionou um de seus advogados (extra) oficiais, o Procurador Geral da República Augusto Aras, aspirante a uma vaga no STF, que de imediato tratou de ressuscitar as denúncias de Duran e finalmente abriu as portas do Ministério Público Federal para a sua delação. Duran não grita mais no deserto.

Ao que tudo indica, o plano Bolsonaro-Aras é utilizar a delação de Duran contra Sergio Moro e desta forma retirá-lo da disputa presidencial de 2022, ou seja, chuva que molha o defunto molha o carregador.

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