Putin anuncia o fim do mundo unipolar

Via Postal PT

Num discurso no Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, Putin esquivou-se a falar da guerra na Ucrânia. Em vez disso, preferiu afirmar que a economia da Rússia poderia florescer apesar das sanções ocidentais e anunciou o fim de uma era com um mundo “unipolar” em que os EUA dominavam.

Num discurso no Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, Vladimir Putin fez questão de posicionar os Estados Unidos da América como uma potência em declínio que trata os seus aliados como colónias, ao mesmo tempo que se declara excecional e “o mensageiro do Senhor na Terra”.

“Se eles são excecionais, isso significa que todos os outros são de segunda classe”, argumentou Putin, num discurso que o Kremlin definiu como “extremamente importante”. No Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, uma conferência anual de negócios antes conhecida como “Davos da Rússia”, o Presidente russo alertou que as “alterações tectónicas” ao nível do “sistema de relações internacionais” são já “impossíveis de contornar”.

Para o Presidente russo, essa era “chegou ao fim” e vamos assistir a uma mudança “que é um processo natural da história”.

“Os Estados Unidos parecem não perceber que, nas últimas décadas, novos e poderosos centros se formaram e estão cada vez mais a ganhar voz, cada um deles desenvolvendo os seus sistemas políticos e instituições públicas”, insistiu Putin.

Para explicar o declínio do Ocidente, o líder russo lembrou que os EUA deixaram de ser um país exportador, para se tornarem economia importadora, o que provocou uma crise económica global.

Putin, cuja intervenção se atrasou ​​em mais de uma hora depois de o Kremlin ter denunciado ciberataques em “grande escala” nos sistemas de computadores da conferência, falou ao longo de mais de 70 minutos, mas mal tocou no tema da guerra na Ucrânia. Em vez disso, dedicou-se a apontar o dedo ao Ocidente e a anunciar a queda de um “mundo unipolar”.

“As relações internacionais têm sido alvo de uma interpretação que permite apenas beneficiar os países que têm uma visão única. Um mundo baseado nestes dogmas será muito instável.” Este é, por isso, um ponto de viragem, asseverou Vladimir Putin. “Não podemos apenas sentar-nos e acreditar que tudo será como antes. Isso não vai acontecer. Parece que estas elites governamentais de alguns países ocidentais continuam a optar por ignorar esta questão e voltam novamente a acreditar nos fantasmas do passado. Os nossos homólogos recusam ver a realidade e pensam com base em padrões do passado. Pensam que o resto do mundo é uma zona periférica, que faz parte do seu quintal.”

SANÇÕES FORAM UM “FRACASSO”, GARANTE PUTIN

O Presidente russo considera que existe “russofobia” no “mundo inteiro” e que as sanções impostas pelos aliados ocidentais foram “absolutamente inconcebíveis”.

“A Rússia está a entrar na era em que se aproxima como um país poderoso e soberano”, disse Putin. “Certamente usaremos as novas e colossais oportunidades que esta era está a abrir à nossa frente”, acrescentou. O chefe de Estado da Rússia acredita que a União Europeia impôs sanções contra a Rússia por ordens de Washington, apesar dos danos provocados à sua própria economia. Nesse sentido, sustenta Putin, “a União Europeia perdeu completamente a sua soberania política”.

Vladimir Putin também acusou os líderes ocidentais de usarem a inflação causada pela guerra na Ucrânia para ocultar as verdadeiras razões para a crise económica: os alegados gastos excessivos dos governos ocidentais e uma política monetária frouxa. “Todos nós ouvimos falar sobre a chamada inflação de Putin no Ocidente”, retorquiu Putin. “Quando ouço isso, penso sempre: para quem é esta estupidez? Para quem não sabe ler nem escrever.”

De acordo com o Presidente da Rússia, a inflação ameaça causar “fome nos países mais pobres”, o que deverá recair “totalmente na consciência dos Estados Unidos e da euroburocracia”.

PUTIN DIZ QUE UE PERDEU CERCA DE 400 MIL MILHÕES DE EUROS COM SANÇÕES

O Presidente russo, Vladimir Putin, disse também que a União Europeia (UE) perderá mais de cerca de 400 mil milhões de euros no próximo ano, devido às sanções que impôs contra Moscovo, por causa da invasão da Ucrânia. “Segundo estimativas de especialistas, a febre das sanções pode causar prejuízos diretos à UE de mais de 400 mil milhões de dólares (cerca de 400 mil milhões de euros) no próximo ano. Esse é o preço de decisões distantes da realidade e tomadas sem bom senso”, denunciou Putin.

Para o líder russo, a UE já perdeu a sua soberania e as suas elites “dançam ao som da música de outros”, referindo-se à influência dos Estados Unidos e à incapacidade dos países europeus para definirem uma estratégia própria.

“Fazem tudo o que desde cima lhes mandam fazer, causando danos à sua própria população e à sua economia, aos seus negócios”, denunciou Putin, referindo-se às sanções impostas a Moscovo por Bruxelas.

Sobre o impacto das sanções ocidentais na economia russa, Putin desvalorizou os efeitos.

“Estamos a normalizar a situação económica, passo a passo. Começámos por estabilizar os mercados financeiros, o sistema bancário e as cadeias comerciais. Depois, começámos a injetar liquidez na economia, para manter a estabilidade das empresas”, disse Putin.

Sobre a situação na Ucrânia, Putin garantiu que as forças militares russas cumprirão “sem falhas” os objetivos iniciais da “operação militar especial”, iniciada em fevereiro.

O Presidente russo elogiou a “coragem e heroísmo dos soldados”, “a consolidação da sociedade russa”, bem como a compreensão do caráter “justo” desta operação militar.

Repetiu que foi “obrigado” a iniciar a campanha militar, em face de “riscos e ameaças” à Rússia, alegando que o seu país tem o direito de “defender a sua segurança”.

“A decisão visa proteger os nossos cidadãos, os habitantes das repúblicas do Donbas, que ao longo de oito anos foram submetidos ao genocídio pelo regime de Kiev e por neonazis protegidos pelo Ocidente”, concluiu o líder russo.

Vladimir Putin garantiu que a Rússia pode produzir 50 milhões de toneladas de cereais, e está disposta a “falar com a ONU” no sentido de “equilibrar o mercado alimentar” e evitar o “risco de pessoas morrerem de fome” devido à escassez de grãos.

“Não fomos nós que minámos os portos dos mares do Sul, não temos nada a ver com isso”, declarou o Presidente russo, dizendo estar disponível para “criar condições financeiras e logísticas” para as exportações ucranianas poderem prosseguir. “O contributo da Ucrânia é insignificante, mas têm cinco ou seis alternativas para exportar cereais, através da Bielorrússia ou da Polónia”, salientou Putin, deixando claro que “a exportação de cereais da Ucrânia é feita para comprar armas”.

“O Ocidente está a dar à Ucrânia grandes quantidades de armas, mas está-se ‘nas tintas’ para o bem-estar das populações”, concluiu Putin.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *