Da destituição de Castillo à repressão: como a direita consumou o ‘golpe’ no Peru

Via actualidad

Com as últimas decisões do Congresso de rejeitar a antecipação da eleições, enquanto, paralelamente, avança a militarização do conflito decretada pela presidente Dina Boluarte, as forças sociais do conservadorismo finalizam a preparação de um regime pós-democrático.

Ou seja, não estamos mais falando apenas da derrubada parlamentar do presidente eleito pela vontade popular, mas da instauração de um regime autoritário sem legitimidade original: uma ditadura.

A forte repressão que já causou mais de vinte mortes, assim como os discursos de criminalização contra as manifestações pacíficas, oferecem um perfil ditatorial a um executivo que se gaba de interino por três anos mas que não tem legitimidade mínima para se perpetuar.

“O conservadorismo peruano está debatendo se vai a eleições condicionais e entrega o poder novamente ao Fujimorismo ou continua apoiando Boluarte por esse longo período.”

Estes dias de protestos contundentes, massivos e multiplicados em todo o país obrigaram o governo de fato a revelar que a derrubada de Castillo não é apenas um ato legislativo, mas que conta com apoio militar que se desdobra em protestos dos cidadãos contra um regime repressivo que também tem uma data de validade distante de 2025.

Fujimorismo

A situação se torna mais complexa pelo fato de os setores radicais de direita configurados em Fujimori poderem querer eleições antecipadas nas quais, sem a concorrência do ex-presidente Pedro Castillo, Keiko Fujimori possa finalmente chegar à Presidência, depois de perder dois turnos em 2021 antes do Castelo.

Desta forma, o conservadorismo peruano está debatendo se vai a eleições condicionais (com a esquerda judicializada) e entrega novamente o poder ao Fujimorismo, que sempre foi seu setor mais extremo, embora altamente desacreditado, ou continua apoiando Boluarte por esse longo período.

Mas os níveis de rejeição ao Congresso, que é onde são tomadas as principais decisões sobre a liderança do país, estão aumentando e qualquer candidatura que levante a bandeira do “fechamento do Congresso”, a polêmica medida de Castillo, pode vencer as próximas eleições.

Porém, um cenário desse tipo, eleitoral, não é esperado tão cedo. Vários atores políticos alertaram que 2023 é um ano chave para o Peru em termos de contratos de prospecção e exploração de diferentes recursos com empresas estrangeiras.

“Para preparar o terreno para a perseguição, a máquina da mídia, incluindo a internacional, reviveu os métodos da Guerra Fria para acusar os manifestantes de vândalos”.

Se o atual Congresso tiver o controle político e o apoio das Forças Armadas, certamente os legisladores majoritários se sentirão capazes de atravessar o próximo ano –cheio de acordos de longo prazo e assinaturas com empresas extrativistas– sem ter que ceder de plantão novo presidencial

Com o controle do Congresso e das Forças Armadas, basta a oligarquia de Lima manter o poder e aumentar a perseguição policial e a repressão militar.

‘Terruqueo’ como forma de governo

Para preparar o terreno para a perseguição, a máquina da mídia, incluindo a internacional, reviveu os métodos da Guerra Fria para acusar os manifestantes de “hooligans”.

‘Terruqueo’ é o nome no Peru para a criminalização de atos políticos. Com os protestos de setores populares, as iniciais do extremista Sendero Luminoso voltaram a ser lembradas na mídia ‘establishment’ para vincular os manifestantes ao terrorismo.

Alinhados a este novo cenário imposto pela direita peruana, diversos meios de comunicação internacionais têm vindo não só a reconhecer a derrubada do presidente eleito pela vontade popular, mas também a legitimar os massacres que estão ocorrendo e os que poderão ocorrer se os poderes não ceda às demandas democráticas de sua população.

A única coisa que pode mudar esse panorama é a força dos atores mobilizados, algo que será revelado nos próximos dias.

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