União Europeia começa a entregar refugiados ucranianos para serem usados na guerra

Via Geopol.pt

Segundo o portal polaco RFM24 na sua edição de segunda-feira, o governo de Varsóvia acordou começar a deportar os refugiados de guerra ucranianos do sexo masculino ao regime de Kiev. De se confirmar a notícia, estamos perante uma gritante ilegalidade ante o direito de asilo e põe em causa toda a legitimidade da própria UE.

A braços com a falta de soldados, Kiev está com problemas em cumprir com o acordo que tem com a NATO/UE, de homens por armas e apoio financeiro. A lei ucraniana, já muito pesada, está sendo debatida para alargar até aos 16 anos a idade dos homens em idade militar que não podem sair do país. Atualmente nenhum homem entre 18 e 60 pode sair da Ucrânia. Alguns tentam, no entanto, escapar ao serviço militar fugindo para o estrangeiro.

Os exemplos de jovens que fogem à morte são aos milhares na Polónia e Alemanha, mas também em Espanha e Portugal. «Vi uma pessoa que levou um tiro no estômago. Estava a sofrer imenso. Depois vi uma cabeça cortada». Ivan Ischenko, que se tinha voluntariado para lutar contra a Rússia no exército ucraniano, acabou por não conseguir suportar tamanha crueldade. «Não queria ver mais nada.» Após um mês na frente, o ucraniano desistiu — disposto a aceitar uma pena de prisão ou a pagar milhares de euros para fugir do seu país. Atualmente, vive na Alemanha.

A Alemanha concentra uns 160 mil ucranianos em idade militar. O diário Bild disse na sua edição de sábado que agora poderão ter o mesmo destino que os seus compatriotas que escolheram a Polónia como país seguro. De acordo com os dados oficiais do Ministério de Assuntos Internos da Alemanha (em fevereiro), 163.287 ucranianos sujeitos a mobilização entraram na Alemanha como refugiados. A publicação informa que isto representa mais da metade do exército ucraniano no momento.

Ontem, o chefe da facção do partido «Servo do Povo», do presidente Zelensky, Davyd Arahamiya, disse que os ucranianos recrutados para o serviço militar que deixaram a Ucrânia com base em certificados falsos de inaptidão para o serviço podem ser extraditados para casa e que terão de regressar ao país..

«O heroísmo termina quando vês a guerra com os teus próprios olhos»

Quando a Rússia invadiu o seu país em fevereiro de 2022, este jovem de 30 anos estava determinado a lutar por uma Ucrânia livre. «Antes de ir para a guerra, pensava que era um super-herói» recorda Ischenko. «Mas todo o heroísmo acaba quando se vê a guerra com os próprios olhos e se percebe que o nosso lugar não é aqui.»

Ischenko pagou 5.000 dólares para fugir da Ucrânia. Um carro com uma matrícula do governo levou-o para uma floresta perto da fronteira húngara, ele trepou por um buraco na vedação e fugiu. «Foi nesse momento que senti mais medo. Quando deixei a Ucrânia e fugi a pé», conta o refugiado.

Tal como Ishchenko, muitos ucranianos fugiram do serviço militar ou desertaram do exército desde o início do ataque russo. No seu país de origem, podem ser condenados entre cinco e doze anos de prisão. Oficialmente, os homens ucranianos com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos não estão autorizados a sair do país. Ishchenko encontra-se atualmente em Dresden.

As autoridades ucranianas não quiseram dar uma estimativa do número de homens que deixaram o país, mas afirmam ter detido 13.600 pessoas desde fevereiro de 2022 que pretendiam sair do país fora dos pontos de passagem habituais. Outras 6.100 pessoas foram apanhadas com documentos falsos, na sua maioria homens em idade de combater, disse o porta-voz da polícia de fronteira Andriy Demchenko.

Bogdan Marynenko atravessava regularmente a fronteira com a Polónia, dois dias antes do seu décimo oitavo aniversário. «Se voltar, vão mandar-me para um sítio que está a arder», diz, olhando para a frente. «Não posso fazer nada, não me vão preparar e vão matar-me».

Na Polónia, Marynenko trabalha em estaleiros de construção, utilizando o dinheiro para sustentar a família. O pai está na frente de combate na Ucrânia. «Se lhe acontecer alguma coisa, a minha mãe e as minhas irmãs só me terão a mim», diz o jovem de 19 anos. «Se não tivesse uma família, não teria fugido.»

Muitos ucranianos subornam as autoridades para obterem uma boleia até à fronteira ou um atestado médico falso para escaparem à guerra — como Ivan, que pagou 5.000 dólares por esse atestado e que não revela o seu apelido. «Toda a gente conhece alguém que os pode ajudar», diz o jovem de 24 anos.

Todos os oficiais superiores de recrutamento foram recentemente demitidos e mais de 200 centros de recrutamento foram alvo de rusgas. Os investigadores afirmaram ter descoberto «extensas estruturas corruptas em quase todas as regiões do país»

Yevgen Kuruch, 38 anos, que trabalha como motorista de táxi em Varsóvia, confessa: «Sei que devo defender o meu país, mas também tenho de cuidar da minha família». Um homem da sua idade destaca-se na Polónia entre as mulheres e crianças que fugiram da Ucrânia. Algumas delas censuram-no: «Disseram-me: ‘Os nossos homens estão na frente, estão a lutar, e vocês, cobardes, ficam aqui. Escondem-se nas costas deles, nas costas dos nossos homens».

O oficial na reserva vive atualmente em Varsóvia com a mulher e os filhos Kirill e Anastasia, de cinco e oito anos. «Quando os vejo, dou-me força», diz Kurutsch. «Conforta-me saber que não estou a fazer isto por nada.»

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