CONDENAÇÕES SEM PROVAS: UMA ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA

Luã Reis – O turbulento cenário da política brasileira, com os dramáticos lances recentes, colocou em segundo plano os acontecimentos internacionais. A escalada retórica envolvendo a guerra na Síria, seguida por movimentos militares das principais potências (OTAN x Rússia e China, com os respectivos aliados regionais) pode gerar terríveis desenvolvimentos práticos. No entanto, além de serem indissociáveis os cenários, afinal a política interna se insere no quadro da geopolítica global, é possível observar certas interligações nas justificativas de ação por parte dos beligerantes, internos e externos: a “judicialização” da política, a pressa nas supostas investigações e as condenações sem provas.

No caso brasileiro, na prisão de Lula é evidente: na sentença o juiz Sérgio Moro não se furta de utilizar reportagens de periódicos conservadores como “evidência do crime”, patéticas frases de personagens de quadrinhos americanos e acusações vazias. O que Moro não faz é provar a ligação do apartamento, supostamente do ex-presidente, que pertencia a OAS e agora a Caixa, com a Petrobrás. O julgamento só se deu na Vara de Curitiba por conta dessa ligação que Moro simplesmente, de maneira cínica, se furta de tentar explicar. 

Também é cinicamente que a Rússia sofre inúmeras acusações dos EUA e seus vassalos europeus, jamais provadas: a derrubada do avião da Malásia Air Line, a interferência nas eleições americanas, a influência no Brexit, e agora o “atentado” contra o russo agente do serviço secreto britânico. Antes de qualquer investigação, políticos ocidentais e os porta-vozes midiáticos já declaravam os russos como culpados. Nenhuma dessas acusações foram provadas, e, quando investigadas com algum rigor, apontam resultados contrários a narrativa americana. 

O “ataque químico” contra o agente britânico, inicialmente dado como morto, mas que passa bem, se torna cada vez mais nebuloso. O governo britânico não apresentou uma prova de nada para acusar, condenar e punir o russo com sanções. Antevendo os próximos passos, a Rússia afirmou que se tratava de uma estratégia sofisticada, porém óbvia: a simulação de ataque químico com um gás de origem russa, viria acompanhada com uma ataque químico forjado na Síria.

Eis que em algumas poucas semanas, acontece como previsto pelo embaixador russo na ONU. Assad com a guerra ganha, sem nenhuma razão, faz justamente aquilo que daria justificativa para um ataque das potências ocidentais: utiliza gás sarin contra a população civil. A grande imprensa mundial não se perguntou o que levaria Assad a cometer tal irracionalidade. Ao que Trump respondeu do seu modo: “Assad é um animal”. E qual a prova do ataque químico? Imagens internas produzidas pelos “rebeldes moderados” financiados e armados pelo ocidente. Antes das investigações começarem, o julgamento já foi realizada e a sentença é a guerra. 

Como se vê, não é coincidência, mas método: substitui-se a presunção da inocência pela suposição de culpa, seja no direito penal ou no direito internacional. As condenações antecipam as investigações. Os julgamentos são realizados com as sentenças já conhecidas. O autoritarismo provinciano do Mussolini de Maringá é a reprodução local da prática americana que solapa a legalidade. O endurecimento do regime brasileiro é, na forma e no conteúdo, parte da mesmo jogo imperial que cerca a Rússia, a Síria e tantos outros países. Quanto a isso sobram provas e há fartas evidências.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *