O OBITUÁRIO DE MC CAIN: HIPOCRISIA E A NATURALIZAÇÃO DOS FACÍNORAS

Luã Reis – O Senador John McCain, morto nesse último sábado, dia 25 de agosto, tinha se tornado um dos mais ferrenhos opositores do Presidente Donald Trump nos últimos anos. Mc Cain liderava a oposição interna do próprio partido Republicano ao governo. Por conta do antagonismo a Trump, e uma postura respeitosa com os “adversários” democratas, Mc Cain era reverenciado pelas empresas midiáticas dos EUA. Mc Cain seria um “civilizado” diante do bruto e agressivo Trump. Dificilmente, no entanto, o Presidente americano conseguirá matar tanta gente quanto o Senador agora falecido. John Mc Cain foi um dos maiores assassinos das populações periféricas que a mídia hegemônica supostamente defende contra Trumps, nos EUA, Bolsonaros, no Brasil.

A carreira política de Mc Cain começou bombardeando civis no Vietnã. Incalculáveis foram as mulheres e crianças vitimadas pelas bombas incendiárias que o piloto de caças John Mc Cain lançou sobre suas cabeças. Mas essa população civil, de reconhecida fibra diante da covarde agressão imperialista, abateu a aeronave e capturou o piloto, mantendo em cativeiro por um tempo. Libertado, graças a influência do pai, um comandante militar, Mc Cain disse ter sofrido terríveis torturas.  Também se especula, no entanto, que ele tenha sofrido sequelas em decorrência da queda do avião. Logo, os vietnamitas, que ele diariamente matava, salvaram a vida dele.

Aproveitando a popularidade dos veteranos, Mc Cain entrou no Partido Republicano, fazendo carreira no Arizona, especialmente como Senador, cargo onde poderia se dedicar aos lobbys. Mc Cain desde então foi um legítimo representante dos interesses neoconservadores do partido que domina a política americana, o Partido da Guerra. Todos as guerras, grandes e pequenas, passaram a ter o apoio entusiasmado e feroz de John Mc Cain: dos massacres na Nicarágua ao bombardeio da Iugoslávia, toda ação militar assassina contava com apoio do senador.

Mc Cain foi responsável por uma legislação repressora contra imigrantes e trouxe o ultra reacionário Tea Party para o centro da cena política, colocando com vice Sarah Pallin na disputa presidencial de 2008, eleição perdida para Barack Obama. Em movimento semelhante nas eleições presidenciais no Brasil em 2010, José Serra, candidato tucano sempre derrotado, abriu a porta para o reacionarismo, fazendo uma, recrutando apoio da extrema-direita para a campanha. Tanto nos EUA quanto no Brasil, depois de escancarada nunca mais foi possível fechar a porta da extrema-direita.

A atuação de Mc Cain nas questões relativas a Rússia e ao Oriente Médio deve ser analisadas a parte, dado o protagonismo do senador nos ataque retóricos, onipresentes na mídia, que legitimaram enormes massacres. 

Mc Cain defendeu a liberalização da economia russa, isto é a privataria que destruiu a economia russa, se aproximando do fracassado governo Yeltsin. A virada de Putin, em defesa dos interesses nacionais russos, representou um imensa derrota para o senador e seus lobbys. A partir daí, Mc Cain foi um árduo defensor da política russofóbica de sanções contra o povo russo, contribuindo para o congelamento das relações entre a Rússia e o ocidente. Além disso, apoiou golpes, midiatizadas em revoluções coloridas, que instalaram governos fantoches anti Rússia em diversas ex-Repúblicas Soviéticas. O mais recente e notório caso foi na Ucrânia: Mc Cain foi um defensor do Maidan, o golpe que colocou um governo abertamente neonazista em Kiev. Evidentemente, que um governo nazista é racista também, o óbvio dos óbvios, no entanto escancara-se essa fato aqui, para combater a ideia de que “Mc Cain era contra o racismo”, agora em voga na disputa pela memória.

Ainda mais sinistra foi a atuação do senador no Oriente Médio, onde o número de mortos pela sua política chega a dezenas de milhões de pessoas. Mc Cain foi um entusiasta das guerras do Afeganistão e do Iraque. A farsa grotesca das “armas de destruição em massa de Saddam Hussein”, teve em Mc Cain um disseminador de primeira ordem. Com alegria discursava defendendo o envio de mais tropas e armas para aniquilar países que nada fizeram contra os EUA. Graças aos massacres de árabes Mc Cain se tornou amigo de Israel (ou seria que por ser amigo de Israel, Mc Cain massacrou os árabes?). Mais do que nenhum outro lobista, Mc Cain defendeu a venda de armas para a Arábia Saudita, como a bomba, made in America, contra um ônibus escolar matando dezenas de criança.

A grande tristeza do final da vida de Mc Cain foi a desistência dos EUA de atacarem a Síria, graças ao apoio de Putin ao governo Assad. Várias imagens e relatos, de fontes diversas, mostram o envolvimento do senador com diversos grupos de terroristas na Síria, incluindo o ISIS e a Al Qaeda. Foi com entusiasmo que Mc Cain comemorou o bárbaro assassinato de Gaddafi, já prevendo que o próximo seria o Presidente sírio Bashar Al Assad. No entanto, Assad permanece.

O Fantástico de domingo, ao tratar da morte do senador, qualificou como “um dos políticos mais influentes e respeitados”, “dignidade e independência eram um dos traços mais marcantes do Senador John Mc Cain.” Dificilmente, alguém poderia demonstrar tanto respeito e dignidade para o complexo industrial-militar, a quem serviu com tamanha dedicação. Essas guerras, tão caras quanto estúpidas, ajudaram a provocar boa parte da crise que vivemos atualmente, ao contribuir para o déficit fiscal nos EUA, que aumentou ainda mais a desigualdade. Foi esse período crítico que, ainda vivemos, o responsável para o crescimento do discurso nacionalista, isolacionista e violento. Violência que afinal já era legitimada por figuras como Mc Cain. A trilha de sangue de Mc Cain foi o mapa para Trump. Não adianta apresentar um como exemplo de decência e outro sua negação. Da mesma forma, foi Alckmim que pariu Bolsonaro.

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