BOLSONARO PODERÁ SER ÓTIMO PARA OS GOVERNOS ÁRABES

Luã Reis – O Egito cancelou a visita do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, por conta das declarações ultrasionistas de Bolsonaro, incluindo o desejo transferir a embaixada brasileira para Jerusalém. Aparentemente, portanto, uma reação de solidariedade com a Palestina por parte do governo egípcio.

No entanto, o Egito tem um longo histórico, desde dos anos 1970, de total descaso com a Palestina. O Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel, com quem mantem boas relações desde então. Os massacres israelenses de civis palestinos em Gaza não seriam possíveis sem a total colaboração do Cairo. Como também seria impossível a chegada de Al Sisi ao poder sem a concordância de Tel Aviv com a escolha do general golpista pelos EUA, e pela Arábia Saudita em menor escala, em 2013. A ditadura militar egípcia e o governo de extrema-direita de Israel tem sido parceiros cada vez mais íntimos.

Essa política de apoio ao extermínio do povo palestino é ótima para os governantes egípcios e israelenses, porém, evidente, vai contra a vontade da esmagadora população do país africano. Gamal Nasser, o líder anti-colonial do Egito, foi um dos maiores defensores do povo palestino, pelo qual milhares de egípcios lutaram e sacrificaram a vida. No já distante ano de 2012, o povo do Cairo em revolta invadiu e incendiou as embaixadas de Israel e da Arábia Saudita, demonstrando total repulsa por essa política de cumplicidade ao extermínio dos palestinos, pelos governos depois de Nasser.

Quando Trump, atendendo ao lobby sionista e a base evangélica que o elegeu, transferiu a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, os líderes árabes não puderam muito, além de protestar. O sentido religioso da cidade impede que os governos de países muçulmanos demonstrem a mesma indiferença que fazem com a causa Palestina de maneira geral. Mesmo assim, o que podem fazer contra a maior economia e potência imperialista do planeta?

Ora, mas contra o Brasil é possível. Se o Brasil não precisa de petróleo árabe, necessita do mercado de carne dos países árabes, que é é de interesse do agronegócio brasileiro, como bem divulgado nas últimas semanas. Os árabes também sabem que os ruralistas são uma bases de apoio fundamental ao governo bolsonarista. Do Marrocos ao Iraque, percebem, portanto, que o Brasil tem pouco a ganhar e muito a perder com o sionismo radical do líder da extrema-direita no poder. Bolsonaro é um saco de pancadas perfeito.

Esse embate da carne pode ter ainda um desfecho interessante. Mantendo a decisão da transferência da embaixada para Jerusalém, a Liga Árabe pode decretar o embargo da carne brasileira. Quem substituiria o Brasil como fornecedor de carne para os árabes? EUA, Argentina e Austrália. O que mostra o tamanho da estupidez bolsonarista nesse aspecto: o também ultra-sionista Macri, cuja a política externa é de total submissão a Israel, não cogitou transferir a embaixada. Trump poderá ainda se orgulhar de ter aumentado o rebanho no meio oeste americano. Não é possível que esse cálculo não esteja no Departamento de Estado dos EUA

A decisão da política exterior bolsonarista, portanto, é espetacular para Israel, ótima para os EUA, uma chance para os governos árabes pro-imperialista e desastrosa para a política externa do Brasil. Há pouca espaço para a sorte na geopolítica: difícil imaginar que tal conjunto de ações e resultantes não tenha passado, ou sido coordenado, por Washington, em contato com Israel, Arábia Saudita e Cairo.

A política externa de Bolsonaro se apresenta como a vassalagem estratégica, baseada na submissão automática, os EUA agradecem. Trump disse que “trabalhará próximo” do Brasil de Bolsonaro. Leia-se: próximo a distância de uma coleira, o cachorro louco pronto para atacar o povo brasileiro, será um poodle de Trump.

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