PROTESTOS E GREVES NO BRASIL E NA ARGENTINA: A AMÉRICA LATINA CONTRA OS EFEITOS DO NEOLIBERALISMO DE BOLSONARO E MACRI

Por Luã Rei

Brasil e Argentina são os dois maiores, os dois mais populosos e as duas maiores economias da América do Sul. O desenvolvimento político das duas nações influenciam todo o continente latino-americano, além de se repercutirem mutuamente. Não por acaso, é possível traçar historicamente paralelos entre os governos autoritários e nacionalistas de Vargas e de Perón; entre as ditaduras militares durante as décadas de 1960 e 1980; entre a redemocratização, o neoliberalismo e crise econômica dos anos 1980-1990; entre os governos populares de esquerda dos anos 2000 até meados da década atual. Nesse momento, mais uma vez, os povos da Argentina e do Brasil compartilham caminhos próximos suportando a política de terra arrasada dos governos Macri e Bolsonaro. 

Antes, cabe distinguir as formas que a direita entreguista tomou o poder nos dois países. Macri, ex-presidente do Boca Juniors e ex-prefeito de Bueno Aires, conseguiu, com amplo apoio da elite argentina, dos EUA, do capital financeiro e da mídia, derrotar o candidato kirchnerista, em uma votação extremamente polarizada, por uma margem mínima, em 2015. As forças políticas semelhantes agrupadas ao redor do direitista Aécio Neves não conseguiram o mesmo no Brasil, tendo que apelar para um Golpe de Estado, depondo o governo eleito de Dilma Rousseff em 2016. A partir daí uma série de manobras e manipulações políticas – da prisão de Lula à “facada no mito” – conduziu à extrema-direita ao poder em Brasília. 

Macri foi saudado pela direita latino-americano como um exemplo a ser seguido em matéria de política econômica. O sonho direitista se realiza plenamente na Argentina: a catástrofe social – termo que talvez seja brando. Ressurgimento da fome, aumento exponencial da miséria e da pobreza, aumento da carestia e da mortalidade infantil, explosão do desemprego e da inflação. Não há um indicador social sequer que possa disfarçar a constatação: a política de Macri é um ataque contra a população argentina. 

Por isso mesmo, Bolsonaro já declarou apoio irrestrito à reeleição de Macri. A política econômica de Bolsonaro, guiada por Paulo Guedes – eterno tchutchuca dos banqueiros – é idêntica a do governo argentino: ataques aos trabalhadores, aos pobres, as mulheres, aos indígenas, entrega da economia nacional ao capital internacional, destruição de políticas e programas sociais. 

O povo argentino, no entanto, não aceitará o próprio extermínio sem lutar. No dia 29 de maio, mais uma vez, uma greve geral parou o país. As manifestações contra Macri são semanais. A política econômica de terra arrasada se transformou em uma crise política de difícil resolução. Nem a proximidade das eleições parece arrefecer o ânimo da população. Afinal, o próprio pleito presidencial já está com a legitimidade comprometida, pois a política mais popular do país, Cristina Kirchner, foi impedida de concorrer devido à perseguição jurídica. Mais uma evidente semelhança com a situação política brasileira no qual o ministro de Bolsonaro, um funcionário dos EUA, tirou Lula, o político mais popular do Brasil, das eleições. 

Porém, aqui como lá, o povo se mobiliza e combate os efeitos tenebrosos da política neoliberal que Bolsonaro implanta contra os brasileiros. Assim, fica claro que a direita latino-americana seja em uma versão mais polida, como Macri, seja mais agressiva e violenta, como Bolsonaro, é a mesma serviçal dos EUA e inimiga da própria gente. Também se evidencia que os avanços políticos na Argentina repercutem no Brasil – como bem sabe Bolsonaro ao apoiar Macri. 

A tragédia da Argentina de hoje é a catástrofe do Brasil de amanhã, a menos que brasileiros e argentinos impeçam mais essa história comum.

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