75 anos da maior vitória sobre a extrema-direita

A Segunda Guerra Mundial terminou, na prática, em 8 de maio de 1945. Nesse dia, o Exército do Terceiro Reich se rendeu ao Exército Vermelho em Berlim. O ataque nuclear dos EUA sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki serviu para impedir que a União Soviética se voltasse para a Ásia em tempo de auxiliar a libertação das nações dominados pelos japonesas – partes da China, a Coréia, Vietnã.

Foi a derrubada do bunker nazista e não o massacre de civis japoneses, no entanto, que impulsionou outras lutas anti-imperialistas na Ásia, na África e na América Central. A derrota do imperialismo alemão iniciou a derrocada do colonialismo europeu: da Índia a Argélia; do Vietnã a Jamaica; do Senegal a Síria, continentes começara a se libertarem a partir do 8 de maio de 1945

A história da Segunda Guerra Mundial está atualmente em disputa: quem venceu, quem perdeu, qual participação das ideologias e o papel dos países envolvidas no conflito.  

Observando o aspecto militar, a Segunda Guerra Mundial pode ser definida essencialmente como uma luta entre a União Soviética e a Alemanha nazista.

Os números de mortos e feridos nas mais importantes batalhar do conflitos foram:

1) Operação Barbarossa – 1.582.000;

2) Stalingrado – 973.000;

3) Cerco de Leningrado – 900.000;

4) Kiev – 657.000;

5) Operação Bagration 1944 – 450.000;

6) Kursk – 325.000;

7) Berlim – 250.000;

8) Campanha Francesa de 1940 – 185.000;

9) Dia D- 132.000.

A relação entre as batalhas e as baixas é implacável, tornando a seguinte conclusão historicamente irrefutável: a Guerra foi travada e decidida na Frente Oriental, isto é, nos confrontos entre as tropas nazistas e o Exército Vermelho soviético. Tomando como referência o número de baixas envolvidas nas batalhas e operações da Segunda Guerra, o desembarque na Normandia, badalado por Hollywood e pelo Ocidente, ocupa um discreto nono lugar.

O ataque contra a União Soviética começou em junho de 1941. A Alemanha nazista inicia a operação Barbarossa – nome em homenagem a um príncipe que estimulou as Cruzadas, que os bolsonaristas tanto enaltecem. Era a abertura da Frente Oriental.

A Frente Oriental da Segunda Guerra Mundial foi o maior teatro de guerra na história da humanidade, abrigando a maior parte do Holocausto, dos campos de extermínio, marchas de morte e guetos e a maioria dos pogroms. Mais pessoas lutaram e morreram na Frente Oriental do que em todos os outros palcos da Segunda Guerra Mundial combinados, sendo 90% de todos as tropas alemães mortas nesta frente.

Mas não foram apenas tropas alemães que atacaram a URSS: Finlândia, Hungria, Itália, Polônia, Romênia, Croácia, Bélgica, Eslováquia, Espanha, França, Portugal e Grécia mandaram suas tropas fascistas para Frente Oriental. Totalizando 4,5 milhões de soldados no exército invasor, agrupados em dezenas de divisões, em uma linha de ataque que cobria 3000 km utilizando 600 000 veículos blindados.

Enquanto isso, na Frente Ocidental, Hitler dominava a Escandinávia, os Países Baixos e a França, enquanto travava batalhas aéreas contra a Grã-Bretanha, em uma dominação incomparavelmente menos violenta. Na Europa ocidental, havia campos de trablaho e prisão, na Europa oriental, campos de concentração e extermínio.  

A abertura de uma nova frente era fundamental para amenizar as perdas humanas e materiais no leste. Entretanto, apenas três anos depois do ataque nazista à União Soviética, e as consequentes monumentais baixas, que americanos e ingleses cumpriram a promessa de abrir uma nova frente, no dia 6 de junho de 1944. Convenientemente, no momento no qual a ofensiva já havia passado para os soviéticos, em franca marca para Berlim.

Não por acaso, poetas celebraram Stalingrado e não o Dia D, como Carlos Drummond de Andrade:

“As cidades podem vencer, Stalingrado!/Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga./Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo/Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres/a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem”

e Pablo Neruda “A esperança que se rompe em seus jardins/como a flor da árvore esperada/a página gravada de fuzis/as letras de sua luz, Stalingrado.”

Dos 70 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, 27 milhões foram de russos. 81% da população da Rússia teve parentes mortos e feridos no confronto contra a Alemanha. Não por acaso o país se refere ao conflito como A Grande Guerra Patriótica e não com a terminologia ocidental.

A vitória do dia 8 de maio foi, portanto, um triunfo militar da União das Republicas Socialistas Soviéticas sobre o Terceiro Reich alemão. Politicamente traduzido como uma vitória de um Estado socialista sobre um Estado fascista imperialista. A falsificação da história militar permite as mentiras e distorções sobre as consequências políticas.  

Pesquisa realizada em 2016 entre habitantes da Alemanha, França e Reino Unido mostra que apenas 13% dos entrevistados atribuem ao Exército Vermelho a reponsabilidade pela libertação da Europa do domínio do nazi-fascismo, enquanto para 20% foi graças aos britânicos e para 43% se deve ao exército americano.

Longe de ser uma questão do passado, o revisionismo histórico em relação a Segunda Guerra Mundial repercute hoje. A “polêmica” sobre o nazismo “ser de esquerda”; os negadores do Holocausto; a proibição do governo da Polônia que se aponta a participação de poloneses nos extermínios de judeus; o voto contrário dos EUA a resolução da ONU que proíbe a glorificação do nazismo; Netanyahu declarando que “Hitler não queria realizar o Holocausto”; o perdão de Bolsonaro ao Holocausto. Distorções históricas que se afirmam mutuamente, com consequências políticas no presente.

Em mais de uma oportunidade, a Rússia alertou para os resultados do revisionismo histórico . Os efeitos estão cada vez mais presentes e perceptíveis no mundo contemporâneo, como as marchas nazistas nos EUA, em Charlloteville, por exemplo, onde os manifestantes não se envergonharam em ostentar suásticas, com a complacência de Trump.

Ou ainda, como o governo da Ucrânia – que também votou contra a resolução da ONU sobre a proibição da glorificação do nazismo – composto por partidos abertamente nazistas que enaltecem os colaboradores locais de Hitler. O governo ucraniano é apoiado pela França e pela Alemanha. Ou, ainda, como nos diversos movimentos e líderes abertamente neofascistas pelo mundo, do Brasil às Filipinas, da Colômbia à Hungria. Não por acaso grupos abertamente neonazistas planejam “ucranizar” o Brasil. Cabe lembrar que o dia da vitória, o dia 8 de maio, é dia da vitória sobre a extrema-direita.

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