QUEM É CONTRA O PARTIDO DE DEUS? A VITÓRIA ELEITORAL DO HEZBOLLAH NO LÍBANO E A CRISE IMPERIALISTA NO ORIENTE MÉDIO

Luã Reis – O Hezbollah, junto com os partidos coligados, foi o grande vencedor das eleições parlamentares no Líbano. O pleito, realizado no último domingo, foi o primeiro no país desde 2009, com o Hezbollah conquistando 67 das 120 cadeiras do parlamento. O primeiro-ministro Hariri, que esteve recentemente em evidência em uma renúncia mal explicada na Arábia Saudita no ano passado, foi o grande derrotado, com o seu partido perdendo um terço dos deputados. Hariri, que também tem cidadania saudita, representa a ala próxima dos interesses ocidentais no regime libanês. O Hezbollah, por sua vez, é extremamente próximo aos governos do Irã, da Síria e do Iraque. A vitória do partido é uma imensa derrota do imperialismo no Oriente Médio. 

O Hezbollah [“Partido de Deus”, em árabe] surgiu no contexto da Guerra Civil Libanesa nos anos 80. Os sucessivos massacres étnicos, especialmente os realizados por israelenses ou colaboradores, motivou a organização dos xiitas das montanhas do Líbano. Desses grupos da resistência armada surgiu o Hezbollah, inspirado e apoiado pelo Irã. O grupo se tornou um partido político, sem abrir mão das milícias armadas, concorrendo pela primeira vez nas eleições de 1992. A partir daí, a organização se expandiu: construiu uma rede de proteção social para população carente do Líbano e criou uma rede de comunicação com canais de TV e rádio.

Em 2006, o Hezbollah repeliu a invasão israelense no sul do Líbano, impondo vergonhosa derrota aos sionistas, posto que o grupo libanês não tem marinha nem aeronáutica, diferente de Israel, armado pelos EUA. Essa vitória fez aumentar o apoio da população libanesa ao grupo, incluindo cristãos e sunitas, não apenas os xiitas. Muito graças ao carismático secretário-geral Hassan Nasrallah, que estreitou os laços com regimes anti-imperialistas, como o da Venezuela, construindo um amplo leque de alianças.

Desde o início da Guerra na Síria, o Hezbollah atuou junto ao governo sírio, intensificando a participação após a entrada do Irã e da Rússia. O grupo teve participação fundamental na liberação de Aleppo, por exemplo. Não surpreende que o ocidente qualifique o grupo como “terrorista” há décadas. Mesmo assim, a resistência avança e se consolida: na luta contra o ISIS, os xiitas do Iraque formaram uma espécie de Hezbollah, as Forças de Mobilização Popular, com apoio do grupo original libanês. 

A guerra na Síria uniu os governos do Iraque, Irã e Síria, com o Líbano se aproximando, o que representa enorme risco para Israel: é possível um comboio sair de Teerã passar por Bagdá, chegar a Damasco, abastecendo por fim as cercanias das Colinas de Golan ocupadas ou o sul do Líbano. A esperada, mas não em tal nível, vitória do Hezbollah aumenta a tensão: americanos e israelenses querem ir à guerra contra o Irã, para compensar a grande derrota na Síria. No entanto, como evidencia os movimentos de Netanyahu e Trump contra o Irã, é necessário ir logo, pois a cada dia a Resistência ao imperialismo se fortalece.

Quando Israel, EUA, França e Inglaterra interviram na Guerra Civil Libanesa, o Irã estava em guerra contra o Iraque, agora as grandes nações xiitas estão mais próximas do que nunca. Não será uma série de massacres como foi nos anos 80, estará mais próximo do cenário de 2006, só que ampliado: a experiência de combate e inovação militar da Guerra da Síria tornaram o grupo uma potência ainda mais expressiva no Oriente Médio. Se aproxima o desespero dos imperialistas que se unem contra o Partido de Deus.

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