A CHINA E OS PRÓXIMOS PASSOS DE UMA VITÓRIA ANUNCIADA

Por Gabriel Barata

A China venceu o decadente império ultraliberal dos EUA. Se a vitória dos socialistas ainda não está clara para alguns, ela vai tomar formas cada vez mais claras na próxima década e os anos 30 serão o início da Era chinesa. Mas a vitória de Xi Jinping não virá sem uma grande resistência das grandes potências de um velho mundo que, cada vez mais rapidamente, se desfaz, como Estados Unidos e Japão. Para isso, a China vai precisar fortalecer um grupo de países contra-hegemônicos que acumulam vitórias sobre o imperialismo, mas que pouco se articulam politicamente entre si.

Existe atualmente no planeta, uma situação de pré-guerra. Não uma guerra envolvendo uma grande potência contra outros pequenos grupos nacionais ou estrangeiros. Uma guerra que vai colocar frente a frente as maiores potências do mundo e que vai reorganizar, como na época da 2ª Grande Guerra, o sistema de todo o globo. Por isso, para a vitória chinesa, terão papéis fundamentais Rússia, Irã e, em menor escala, a Venezuela. A China sabe que o Brasil de Temer e Bolsonaro foi uma vitória dos norte-americanos.

A guerra comercial imposta pelo governo de Donald Trump e que tem como símbolo máximo a perseguição aos produtos da gigante chinesa Huawei, a seus dirigentes e até mesmo aos familiares destes, marca o início de uma disputa que, na próxima década, vai colocar China e Estados Unidos em um choque militar. Mas, como antes de todas as grandes guerras, as potências que se enfrentam buscam enfraquecer setores estratégicos de seus rivais. Por isso, Washington anunciou nas últimas semanas, mais uma vez, o aumento de taxas sobre produtos chineses. Busca enfraquecer a China onde ela tem mais força, sua capacidade de exportação e de produção e de inovação e tecnologia.

A inclusão da Huawei na lista negra dos EUA não vai apenas impedir que o Google negocie seu sistema Android com os chineses (algo que pode ser positivo em longo prazo, já que a Agência Nacional de Segurança dos EUA usa o sistema Google para espionagem em todo o mundo), mas também vai impedir que outros parceiros comerciais façam acordos com a gigante de tecnologia sediada na cidade de Shenzhen. A empresa ARM, que pertence ao fundo japonês Softbank e detém boa parte da tecnologia para a produção mundial de chips semicondutores, também anunciou que vai parar de cooperar com a Huawei.

Se o fim dos negócios entre Google e Huawei preocupa até a companhia americana, já que os chineses devem colocar no mercado seu próprio sistema operacional, o “HongMeng” OS, o mesmo não acontece com o fim da cooperação com a ARM. A China não tem a tecnologia necessária para produzir os chips semicondutores com a qualidade japonesa. E pior, não há outros países que ofereçam tecnologia semelhante. As empresas que controlam 50% da venda mundial de semicondutores ficam nos EUA e as empresas que dominam os outros 35,8% do mercado ficam no Japão. Ou seja, o governo Trump tem uma carta na manga que pode atrasar (mas não impedir) a revolução científica liderada pela China e a expansão da tecnologia 5G desenvolvida pela Huawei.

Nem por isso Pequim discute um recuo. Xi Jinping, ao mesmo tempo em que promete um investimento de U$ 32 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de semicondutores, também procurar comprar patentes dos chips (mas as empresas situadas nos EUA, Japão, Coreia do Sul e Taiwan, regularmente, se negam a vender).  E mais, a China socialista, seguindo o pensamento maoísta do Livro Vermelho, sabe que para entrar em uma guerra, é necessário ter grandes chances de vitória. Para isso, também toma medidas ofensivas e não apenas defensivas.

Os minerais de terras raras são uma das grandes cartas na mão de Xi Jinping. A China sabe que embora muitos países tenham reservas desses minerais (o Japão encontrou em 2013, 16 milhões de toneladas de terras raras no fundo do Oceano Pacífico), é ela que tem a capacidade de refino e produção, e por isso domina quase 80% da exportação mundial desses elementos. Sem as terras raras, os EUA ficam impedidos de realizar os vultosos investimentos em sua indústria bélica, um dos únicos fatores que ainda sustenta os EUA como grande potência mundial.

Ao mesmo tempo em que busca enfraquecer militarmente o império norte-americano, a China busca expandir seus armamentos. E depois de grandes investimentos, o Exército Popular de Libertação da China, deve receber ainda esse ano uma série de novas e poderosas armas militares. A capacidade tecnológica chinesa chegou ao exército e Pequim já testa armamentos que podem ultrapassar o sistema antimíssil dos EUA e de seus aliados. Além disso, a China, que já tem uma base militar no Djibuti desde 2017, deve começar a espalhar outras bases no Oriente Médio, sudeste da Ásia e no Oceano Pacífico (isso de acordo com relatórios dos próprios EUA), com a justificativa de proteger a iniciativa da Nova Rota da Seda.

A China também sabe que seu grande trunfo é sua relevância econômica. E para assumir o papel de superpotência mundial, a Nova Rota da Seda é essencial. A China não vai se tornar o país mais importante do planeta subjugando as nações mais fracas, como fazem os EUA e Europa. Mas sim através de uma cooperação com os países em seu entorno e que desejam sair da zona de influência norte-americana. Por isso, Rússia e Irã vão ser muito importantes na ascensão chinesa.

Moscou, que sofre com as sanções econômicas impostas pelos EUA, já superou a capacidade tecnológica militar norte-americana com seus novos armamentos hipersônicos. E além de ser o maior parceiro da China na Nova Rota da Seda, ainda garante que o Exército Popular de Libertação chinês não precise se tornar o grande foco de investimentos do governo chinês. O Irã, outro país atacado pelo braço imperialista do Tio Sam, também é fundamental para Pequim. As vastas reservas de petróleo do país, somadas às sanções econômicas dos EUA, podem fazer com que o óleo iraniano garanta a produção chinesa pelas próximas décadas, assim como a dos países incluídos na Nova Rota da Seda.

A Venezuela é mais relevante para a rápida formação de um bloco contra-hegemônico do que exclusivamente para a China. E os EUA sabem disso. Assim como o Brasil, esse já na coleira dos norte-americanos, a Venezuela é riquíssima em petróleo e em minerais de terra rara. Ter o controle do país significaria, para Washington, a certeza de que os chineses não conseguiriam estrangular a indústria de guerra americana por muitos anos. E em um confronto aberto na próxima década, os EUA ainda teriam sua grande capacidade militar quase intacta – mesmo que fossem enfrentar problemas para repor as perdas dessa capacidade em uma possível grande guerra.

São poucos os analistas que duvidam da vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais. Trump e sua gangue de assassinos agora buscam uma guerra para confirmar essa vitória, como é comum entre os presidentes norte-americanos. A Venezuela é um dos focos, talvez seja apenas a guerra do primeiro mandato. Os EUA querem assegurar os recursos naturais venezuelanos, assim como fizeram com os nossos (mas aqui agiram através de intervenções da USAID).  Mas a próxima grande guerra dos EUA, muito provavelmente, será contra o Irã. Por isso, a defesa da república islâmica, em pouco tempo, se tornará a principal palavra de ordem de todo cidadão do mundo que tem compromisso com a derrubada dos impérios dos velhos tempos.  

Então China, Rússia e Irã serão obrigados a se articular de forma política, econômica e militar para combater o último grande ataque do império norte-americano. E, anos mais tarde, os trabalhadores de todo o planeta deverão se lembrar da importância dessas três nações para a chegada de um novo mundo. 

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