A BATALHA POR EL DORADO: TALK GENTLY AND CARRY A BIG STICK [Parte 2]

Por Victor Pitanga

“[…] aberta à indústria do mundo, ali se encontrariam fundos inexauríveis de riquezas”.

Assim o governo dos Estados Unidos define a região amazônica, já em 1853, em um projeto encaminhado ao Congresso. Reivindicações de que este ‘paraíso das matérias primas’ era ‘extensão natural do Mississipi’ e que ‘devia ser dependência dos EUA’ povoaram o Senado e a mídia na época. Na visão do tenente da Marinha, Matthew Fontaine, a floresta, ansiosamente, aguardava ‘a chegada de raças fortes e decididas para ser conquistado científica e economicamente’.

Irônico que as raças fortes e decididas seriam, por fim, os africanos e seus descendentes escravizados nas plantações de algodão dos Estados Unidos. A ideia era transformar os Estados Unidos num império escravocrata intercontinental: a Amazônia era cogitada para seguir uma política econômica semelhante aos estados do Sul dos Estados Unidos, de extrativismo mineral, pecuária extensiva, latifúndios e monocultura.
Antes e durante a Guerra Civil, um comitê dentro da Câmara de Deputados dos Estados Unidos discutiu a possibilidade de deportar trabalhadores negros para a Amazônia, o que foi negado pela lei brasileira que não admitia “negros livres em seu território”.

Não tardou até que medidas mais incisivas fossem tomadas.
Visando a diminuição da influência europeia na economia das nações latino-americanas, os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência brasileira, em 1822. Já em 1890, foi criada a Primeira Conferência Internacional dos Estados Americanos, uma tentativa de consolidar um bloco econômico que favorecesse a exportação de produtos latino-americanos para economia estadunidense, em detrimento dos países europeus. O acordo econômico falhou, embora o encontro tenha tido saldo positivo, de acordo com as autoridades de Washington.

Missões religiosas, inicialmente, e depois científicas, quase sempre clandestinas, se enveredavam pela floresta com intuito de mapear a maior bacia hidrográfica do mundo e, principalmente, contrabandear sementes e espécies nativas. A famosa expedição do marechal Cândido Rondon no mapeamento da bacia amazônica, como no Rio da Dúvida, atual Rio Roosevelt, foi acompanhada pelo presidente Theodore Roosevelt em pessoa.

Em nome de Deus e do desenvolvimento científico, grandes parcelas da floresta passaram para as mãos de acionistas e especuladores estrangeiros sob o pretexto da catequização e proteção dos povos indígenas além de pesquisa e preservação da floresta.

No conturbado início do século XX, greves e crise econômica assolavam o Brasil na iminência do primeiro conflito mundial. A Primeira Guerra resultou no declínio das exportações agrícolas e da incipiente manufatura brasileira. Em 1914 Brasil se declara neutro no conflito, o Império Germânico inicia um bloqueio naval aos portos aliados que culmina no bombardeio de dois navios brasileiros. Oficialmente na guerra, o Brasil se torna o único país sul-americano a enviar tropas para o combate.

A aproximação entre os governos brasileiro e estadunidense após a guerra resultou na criação da Fordlândia, uma colônia estadunidense industrial-extrativista de látex à beira do rio Tapajós, no município de Aveiro, no Pará. A iniciativa veio do próprio Henry Ford que tentava contornar o comércio de borracha liderado pela Grã Bretanha que havia contrabandeado sementes de seringueiras para suas colônias no sudeste asiático. A empresa foi noticiada como um investimento estadunidense na infraestrutura brasileira, embora o objetivo real fosse a criação de uma reserva de suprimento de látex para a indústria norte-americana. Menos de trinta anos depois, um segundo conflito mundial levaria o governo brasileiro a se aproximar ainda mais do Império do Norte. A borracha, indispensável na confecção de armamentos, tem seu segundo ciclo de ascensão econômica. O presidente em exercício, Getúlio Vargas, assina um acordo de exportação exclusiva de borracha aos EUA, que em contrapartida, financia a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro.

Uma grande campanha midiática convocou os trabalhadores brasileiros aos seringais amazônicos sob o pretexto de frear a agressão nazista e de seus aliados. Novamente, o ‘patriotismo’ brasileiro serve diretamente ao interesse do Império.

A segunda metade do século XX e a vitória dos Aliados na Segunda Guerra inauguram uma nova ordem mundial com EUA e a União Soviética como potências globais. Fortalecido pela vitória e pela implementação do Plano Marshall, os Estados Unidos inicia uma nova fase imperialista sobre os países latino-americanos que será abordada no próximo artigo.

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