MADURO VENCEU – A PRÓXIMA BATALHA É A PRISÃO DE JUAN GUAIDÓ

Gabriel Barata – Nicolás Maduro venceu a tentativa de golpe no último sábado. A oposição venezuelana fez seu movimento mais ousado desde a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela no dia 23 de janeiro. E perdeu. Esperavam ao menos três coisas: 1) que forçando a entrada da suposta ajuda humanitária, mesmo após os avisos da Guarda Nacional Bolivariana, fariam com que o povo venezuelano se levantasse contra Maduro; 2) que algum opositor ao governo chavista morresse dentro das fronteiras de Colômbia ou Brasil durante os protestos de sábado para que uma ação militar conjunta fosse justificada; 3) um movimento de deserção em massa dos militares venezuelanos. Nada disso aconteceu. Mas a vitória de Maduro não se deu por completo. As tentativas de golpe vão continuar e logo.

Já no sábado (23) começaram a surgir notícias de que o governo de Maduro mandou queimar um caminhão na fronteira com a Colômbia que carregava a suposta ajuda humanitária. Juan Guaidó e Ivan Duque, presidente colombiano, discursaram acusando Maduro de ordenar que colocassem fogo nos carregamentos. Mesmo que, no mesmo dia, vídeos divulgados pela TeleSur TV mostrem que o incêndio começou depois que uma parte de um coquetel molotov atirado por um membro da oposição caiu no caminhão. A mídia internacional passou a noticiar sobre centenas de militares que desertaram e fugiram para Colômbia e Brasil, mas poucos apareceram para se identificar, o que leva a crer que o número de traidores é ínfimo. Para piorar a imagem da oposição venezuelana, alguns desses desertores sequestraram um blindado da Guarda Nacional Bolivariana e atravessaram a fronteira colombiana ferindo dezenas de pessoas. Tudo registrado em vídeo, mas a mídia hegemônica preferiu ignorar o ato de terrorismo. 

O usurpador Juan Guaidó desceu ao degrau mais baixo desde que iniciou a tentativa de golpe, apoiado pelos EUA, em 23 de janeiro. No sábado, dia 23 de fevereiro, quando, pela Constituição venezuelana, o presidente interino teria que, obrigatoriamente, convocar nossas eleições, Guaidó não falou sobre democracia. Pediu abertamente em suas redes sociais que a Comunidade Internacional mantivesse “todas as opções abertas” para a mudança de regime no país, insinuando que uma intervenção militar estrangeira deveria acontecer (algo que foi confirmado um dia depois à Folha de São Paulo). E pior, ficou evidenciado seu erro de estratégia ao entrar em solo colombiano. Guaidó já era um líder sem legitimidade, um deputado com poucos votos apoiado pelos EUA. Agora é um líder venezuelano que nem está no próprio país. Nem mais o controle de fato da Assembleia Nacional Guaidó tem.

Mas isso não significa que ele vai parar. Guaidó descumpriu uma ordem judicial que o proibia de sair do território venezuelano, já que está sendo investigado pelo caos político e econômico que está causando ao país. Nicolás Maduro declarou em entrevista ao canal norte-americano ABC que “ele pode sair e voltar, mas terá que prestar contas à Justiça, porque foi proibido de deixar o país. Ele tem que respeitar as leis”. Enquanto isso, Guaidó, em entrevista ao canal venezuelano NTN24, afirmou: “Vou exercer minhas funções. Vou retornar esta semana a Caracas. E, se me aprisionarem, fique claro que existe toda uma estratégia montada”. Ou seja, a próxima batalha pela soberania da Venezuela vai se dar com a prisão de Guaidó, como ele mesmo declarou.

Assim que Guaidó cruzar a fronteira, será preso pela Guarda Nacional Bolivariana. É possível imaginar que alguém que tente derrubar o presidente dos EUA a partir do Canadá ou que tente derrubar o presidente francês a partir da Alemanha não seja preso ao voltar ao país? É claro que não. E irão usar a prisão de Guaidó para reforçar a imagem de um Nicolás Maduro ditador para tentar criar um levante da oposição. O que provavelmente não vai acontecer, já que as mobilizações chavistas é que tem colocado milhares de venezuelanos nas ruas de todo o país para defender o governo Maduro, como aconteceu em Caracas, no último sábado. Mas um golpe comandado externamente precisa de pressão internacional. E a mídia hegemônica vai tentar criar uma imagem desesperadora que não existe na Venezuela, apesar do sofrimento imposto ao povo do país pela proibição da importação de medicamentos e alimentos. No dia 25 de fevereiro começou a circular um vídeo pela Univision Noticias, um canal hispânico de notícias dos EUA, de supostos estudantes universitários catando comida de um caminhão de lixo e pedindo a saída de Nicolás Maduro. As imagens, obviamente fortes, porém, não mostram pessoas que aparentam estar em situação de desespero. Além disso, a coincidência dessas pessoas ainda pedirem uma mudança no poder deixa mais dúvidas sobre o vídeo. Existe fome na Venezuela, é claro. Assim como existe no Brasil, na Colômbia e nos Estados Unidos. Mas é estranho que uma imagem como aquela tenha sido feita por uma equipe norte-americana há pouco tempo na Venezuela e que tinha uma entrevista marcada com o presidente Nicolás Maduro (uma entrevista nos moldes que o Jornal Nacional fez com Fernando Haddad no ano passado. Apenas para acusar). Também é estranho que essas pessoas não pudessem ser atendidas pelas CLAPs (Comitê Local de Abastecimento e Produção) espalhadas pela Venezuela, que vendem produtos básicos e alimentos a preços baixos e impedem que os mais pobres sofram ainda mais com a crise. Isso sem falar que Maduro tem mais apoio entre os mais pobres (como no Brasil essa classe está mais ligada ao PT e na Bolívia a Evo Morales, por exemplo) e 86% do povo venezuelano, em pesquisa feia pela Hinterlaces antes do início da tentativa de golpe, se manifestou contrariamente a qualquer tipo de intervenção dos EUA, militar ou não. As suspeitas sobre o vídeo são muitas, já que o uso de False Flags tem sido comum no governo Trump.

A mídia internacional já mentiu sobre o regime chavista quando a CNN entrevistou dois supostos militares que haviam fugido da Venezuela. Mais tarde, descobriu-se que eles nunca foram da Guarda Nacional Bolivariana e não moravam na Venezuela. Agora, essas novas imagens servem para pintar o quadro de um regime ditatorial bolivariano. De acordo com os jornalistas da Univision Noticias, quando mostraram essas imagens a Nicolás Maduro ele se retirou da entrevista. No dia 26 de fevereiro eles foram deportados de volta para os EUA e nenhum sofreu qualquer ferimento, apesar de terem sido detidos para investigação.

A Venezuela continua sitiada. Durante reunião do Conselho de Segurança da ONU no dia 26, a Rússia confirmou as informações da Inteligência Cubana, que trabalha junto com a Venezuela, sobre as movimentações marítimas de militares norte-americanos em Porto Rico. E o secretário russo Nikolai Patrushev disse com todas as letras: “os EUA preparam uma intervenção militar”. Maduro venceu, no sábado, apenas mais uma batalha. Mike Pence já anunciou novas sanções que vão tornar ainda mais difícil a vida do povo venezuelano. E, apesar do Grupo de Lima ter apoiado uma solução pacífica para a crise da Venezuela, todos os países reiteraram que as pressões contra Maduro devem continuar. 

A luta de classes ainda vai se acirrar na Venezuela. Maduro tem a organização popular ao seu lado e continua a resistir bravamente às agressões externas. A próxima batalha vai se dar nos próximos dias, quando Guaidó tentar retornar. E provavelmente não será a última. O Império apostou alto e não vai aceitar uma derrota tão facilmente.

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