PARA NÃO ESQUECER O 11 DE SETEMBRO DE 1973: O GOLPE NO CHILE

Por Ernesto Germano Parés

Enquanto a direita volta a falar de um suposto “ataque terrorista” aos EUA, como faz todo ano em 11 de setembro, de minha parte prefiro falar de mais uma intromissão estadunidense na política interna dos países, em particular na América do Sul. Prefiro recordar e refletir sobre o que foi o golpe militar no Chile e o que representou para nossa região.

Só para lembrar, quando o golpe contra Salvador Allende aconteceu o Brasil e o Uruguai já viviam regimes militares de exceção, também impostos por Washington. Em 1971 acontece o golpe na Bolívia e depois do golpe chileno (1973) foi a vez do Peru (1975) e Argentina (1976)

Salvador Allende Gossens era médico. Tornou-se político e foi eleito presidente do Chile em 1970. Curiosamente, foi o primeiro socialista a ser eleito presidente no mundo e isto, é claro, causou imenso desassossego entre os gurus de Washington. Era preciso acabar com isso rapidamente! Já pensaram se “a moda pega”?

Salvador Allende nasce em 26 de junho de 1908 em Valparaíso, proveniente de uma família de classe média alta. Em 1926 vai para a capital Santiago para estudar medicina na Universidade do Chile onde se tornou dirigente estudantil e opositor da ditadura de Carlos Ibañez.

Formou-se e foi trabalhar como médico legista tendo realizado mais de 1500 autópsias. E ele mesmo dizia que ali havia conhecido de perto a miséria chilena e os males pelos quais morria o povo.

Em 1933 ajuda a fundar o Partido Socialista do Chile, no qual militaria toda sua vida. Em 1937 concorre e ganha as eleições para deputado. Com apenas 30 anos, em 1939, é nomeado Ministro da Saúde.

Aproveita o pouco tempo livre para escrever um livro: “La Realidad Médico-Social Chilena”. Aqui ele alertava para os problemas da mortalidade infantil no Chile e a precária situação do sistema de saúde.

Em 1940 se casa com Hortênsia Bussi, apelidada La Tencha, com quem teria três filhas. Uma delas, Isabel Allende Bussi, seguiria os passos do pai e seria deputada e senadora.

Em 1970 é eleito presidente. Dizia que seu desejo era implantar a via socialista chilena “com sabor de empanada e vinho tinto”. Um dos primeiros atos de Allende foi nacionalizar o cobre, principal produto de exportação do Chile. Igualmente, estabeleceu que todas as crianças teriam direito a meio litro de leito diariamente.

Na política externa, o Chile passou a ter relações diplomáticas com todos os países do mundo, inclusive os de orientação socialista. Impulsou a reforma agrária, mas enfrentou grandes resistências.

A CIA, o Pentágono e outros “que tais” não perdem tempo. Logo estava formada uma aliança entre a Casa Branca e a extrema direita chilena, com a participação das Forças Armadas do país.

No final de 1972 montam uma greve de caminhoneiros e a classe média inicia uma série de protestos paralisando o país. Tem início o boicote por parte de produtores e comerciantes chilenos deixando a população sem produtos básicos como leite ou carne (modelo que conhecemos e vem sendo usado na Venezuela). Mas, é claro, nada falta para os ricos que podem comprar no “mercado negro” tudo de que precisam.

Houve uma primeira tentativa de golpe, em junho de 1973. O golpista da época, um certo general Prats, renuncia ao comando das Forças Armadas e indica o general Augusto Pinochet para substituí-lo. Estava tudo armado

Apoiado pela direita, a burguesia e os estadunidenses que mandam aviões bombardear o Palácio onde estava Allende, o General Pinochet lidera, então, um ataque à capital onde o palácio presidencial é sitiado. Estava dado o golpe que culminou com uma das ditaduras mais sangrentas de que se tem notícias na América Latina.

Salvador Allende cumpriu sua promessa de não renunciar e acabou se matando dentro do Palácio de La Moneda quando este era atacado pelo Exército e bombardeado pela Força Aérea.

Para quem não sabe, pouco depois do golpe o Chile se tornou o primeiro laboratório mundial do neoliberalismo. Para lá foram Milton Friedman (um dos pais do maldito projeto) e todos os seus alunos estadunidenses, também conhecidos como “chicagos boys” (referência a Universidade de Chicago onde Friedman era “deus”! Ah! E foi também um conhecido nosso, dos brasileiros: Paulo Guedes.

Para conhecer a falta de limites da ditadura chilena, recomendo o filme “Missing”, de Costa Gravas, disponível no canal Youtube.

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